Arquivo da tag: Marcia Costa

O último xetá? nas bibliotecas

Essa semana realizamos seis apresentações do espetáculo “O último xetá?” nas bibliotecas públicas municipais comemorando a Semana do Índio, evento realizado pela Secretaria Municipal de Cultura. O espetáculo de contação de histórias é uma homenagem às três principais etnias que habitavam as terras da região noroeste do Paraná: xetá, guarani e kaingang. Idealizado pela atriz Marcia Costa, a montagem estreou o ano passado nas bibliotecas e depois foi reformulada com a entrada do músico Rafael Morais dividindo a cena e eu na produção.

Estreamos novo cenário e figurino e vivemos uma experiência cansativa, porém deliciosa. Pela primeira vez fomos assistidos por um grupo de indígenas, kaingangs levados pela Associação Indigenista de Maringá (Assindi). A maior parte do público que tivemos foram estudantes agendados pelas bibliotecas. Conhecemos o CEU das Artes, novo espaço cultural de Maringá, localizado no distrito de Iguatemi e que é um encanto.

Enfim. Só uma palavra a dizer: gratidão!

Em breve publicarei algumas fotos do Renato Domingos, que registrou uma das apresentações. Por enquanto ficam as minhas fotos mesmo, mas faltou registros das bibliotecas do Parque das Palmeiras e da Casa da Cultura do Jardim Alvorada.

No próximo dia 26 de abril, um domingo, o espetáculo será apresentado no projeto Piquenique da Leitura.

DSC06264

Biblioteca Bento Munhoz da Rocha Netto (Centro)

DSC06277

CEU das Artes, no distrito de Iguatemi.

Marcia Costa, Rafael Morais e os kaingang.

Marcia Costa, Rafael Morais e os kaingang.

Biblioteca Professora Tomires Moreira de Carvalho (Mandacaru)

Biblioteca Professora Tomires Moreira de Carvalho (Mandacaru)

DSC06331

Biblioteca Operária


1 ano da Toca da Coelho!

Hoje a Toca da Coelho completa um ano!

Parece que foi ontem que o jornalista Gustavo Hermsdorff me acionava via Facebook para me convidar a criar um blog sobre teatro que seria hospedado também no site do jornal O Duque. Eu estava em Curitiba passando uma temporada por motivos de trabalho. Aceitei, com alguns receios. Eu, que nunca tinha mexido no wordpress e sou meio ignorante com tecnologia, fui aprendendo mais ou menos a mexer no layout.

O objetivo principal deste blog é contar histórias sobre o teatro maringaense, lembrar suas memórias, mais do que servir de agenda de eventos. Não há uma periodicidade fixa nas postagens, mas durante esse ano consegui publicar muita coisa. Dê uma olhada na seção “Santo de casa” para descobrir quantos maringaenses (ou pessoas que começaram a fazer teatro aqui) que hoje estão brilhando em outras cidades. Acho que foi o que fiz de mais legal durante este ano: descobrir essas pessoas! Sim, porque todos os textos foram lindas descobertas. Histórias deliciosas, relatos emocionantes, trabalhos que me encheram de orgulho de ser maringaense.

Quero fazer muito mais, descobrir outras histórias, mas falta tempo para me dedicar a essa investigação. Sempre é difícil conseguir respostas de entrevistas, é preciso ficar cobrando e isso faz com que eu me sinta meio chata e tenha medo de me tornar inconveniente para as pessoas. Quem achar que não e estiver disposto, por favor, entre em contato para me contar a sua história.

No mais, é sempre aquela crise: será que alguém lê? rs.

Bem, mas vamos à postagem de aniversário! Foi uma sugestão da minha amiga atriz Marcia Costa. A ideia foi pedir aos artistas que estão atuando em Maringá para recordarem seus primeiros trabalhos por aqui, mandando foto e um breve relato. O resultado está abaixo. A ordem das histórias foi de acordo com o recebimento dos arquivos.

Agradeço muito a todos que tiraram um tempinho para preparar isso. Fiquei feliz em ler e tudo isso deu um pouquinho de saudade.

E que o teatro nos una, sempre!

Foto: Arquivo pessoal de Flavio Amado

Espetáculo “Canal zero”. Foto: Arquivo pessoal de Flavio Amado

Depoimento de Flavio Amado

“Canal Zero” foi o início de tudo! De um bando de adolescentes espirituosos, travessos, cheios de ousadia e audácia e estralando de vontade de brincar de viver experiências que nem mesmo nós sabíamos ao certo onde iam dar. Mas tínhamos um compromisso com o teatro como sérios diletantes à história que viríamos viver juntos e construir ao longo dos palcos e lugares que trilharíamos. Era divertidíssimo! Cantávamos, fazíamos horas de aquecimento vocal, improvisações e o espetáculo nasceu disso. O Tisley tinha uma maneira muito boa e coletiva, democrática de ensinar. E nos dava um ponto de vista fundamental para o trabalho de grupo. A criação coletiva e a importância do Coletivo. Autonomia criativa. Valeu, Mestre!! Fora isso era carregar cabide, dormir em ginásio, fazer desfile de moda, festivais, encontros e formações. Já começávamos a ler Stanislavski e a pré-criar o TV Pirata. Isso mesmo, muito bem antes deles! A peça era uma sátira da television .. E os últimos capítulos estão cheios de emoção! Hilário! E daí conhecemos todo mundo e vivíamos no espírito de trupe. Canal Zero Ponto Zero de revoluções pessoais, descoberta do Mundo, da arte e do desejo de ser artista, a liberdade de expressão. Nossa, o Filo foi foda na nossa formação. Me lembro das extensões em Maringá. Os russos, os ciganos americanos, os porto riquenhos, os canadenses em meio a Paulo Autran, Mario Schoenberg, Edson Bueno… atravessavam a cidade ao mesmo tempo ! Tinha tudo isso junto com esse bando! E as revoluções continuammmm kkkkkkkkkkkk”

Foto: Arquivo pessoal de Marcia Costa

Espetáculo “Canal zero”. Foto: Arquivo pessoal de Marcia Costa

Depoimento de Marcia Costa:

“O “Canal Zero”, do Grupo Escada, foi a primeira montagem teatral de várias pessoas aqui em Maringá. O Grupo nasceu em uma das oficinas de teatro oferecido pelo Centro de Ação Cultural no ano de 1986 e ministrada pelo diretor Tisley Barbosa. As escadarias do CAC serviam para compartilharmos ideias, estudar texto, ensaiar esquetes antes de apresentar na aula… As escadas já me foram mais íntimas que minha própria casa rsrs E foi por causa dessa nossa convivência assídua nas escadas que deu-se origem ao nome do grupo. A primeira peça do grupo intitulada “Canal Zero” foi resultado de improvisações feitas a partir de nossa observação crítica sobre a televisão aberta brasileira. Nossas percepções eram bastante intuitivas talvez sem muita profundeza teórica, éramos tão jovens, porém éramos sim muito antenados e talentosos. Tivemos um retorno muito positivo do público na época até estrear “TV Pirata” , por mais de uma vez ouvi pessoas dizerem que estávamos copiando o programa. E não era verdade pois além de termos montado “Canal Zero” muito antes do “Tv Pirata” estávamos criticando a forma como a televisão brasileira se estabelecia e não elogiando-a. A foto que o Flavio Amado postou acima é da cena “Baratex não perdoa mata” poderia essa cena nas entrelinhas estar dizendo sobre a tv e seu marketing: Cuidado com meu feitiço tendencioso, porque eu não perdoo, mato!”

Foto: Arquivo pessoal de Laura Chaves

Espetáculo “Em família”. Foto: Arquivo pessoal de Laura Chaves.

Depoimento de Laura Chaves:

“Este foi meu primeiro trabalho como atriz na cidade de Maringá. Cheguei em 1996 e já no ano de 1997 iniciamos este trabalho. Luthero e eu protagonizamos o espetáculo. Texto de Oduvaldo Viana Filho, direção do Pedro Ochoa, produção Luthero de Almeida e Laura Chaves. O grupo se apresentou com a Cia dos Três. O elenco era composto por Joaquim dos Santos, Luciana Alves, Mayra Mugnaini, Sandro Maranho, Elaine, Marcão Trindade. Retratava a história de uma família que, em função dos tempos modernos, já não conseguia tomar conta dos pais idosos. Engraçado que já naquela época já havia uma identificação com o tema da terceira idade. Sempre montei trabalhos onde a questão social é abordada. Tivemos o cenário por conta do Luthero e do Reinaldo e o figurino foi de responsabilidade do Eduardo Montagnari. Foi uma bela produção e com tão poucas apresentações. O marco deste trabalho era a força dele próprio, tanto que tem pessoas que até hoje lembram com saudades daquela montagem. Estreamos no Teatro Calil Haddad, apresentamos no Teatro Barracão, Oficina de Teatro – UEM. Uma concepção realista. Este trabalho deixou saudades.

Mas o meu primeiro trabalho como diretora foi a montagem do texto “Os Cegos”, texto de Michel Ghelderode. Tinha no elenco Marcão Trindade, Sandro Maranho, Mayra Mugnaini e Luciana Alves, figurinos do Sandro. Lembro que esta montagem marcou bastante pela concepção do uso do Teatro Barracão. O personagem do Marcão – o Lamprido, vinha caminhando pelo madeiramento no teto do teatro. Era um espetáculo curtinho, mas com um desenho cênico bem diferente. “Os Cegos” foi montado em 1998 e ficamos com o espetáculo até 2001.

Espetáculo "Os cegos". Foto: Arquivo pessoal de Laura Chaves.

Espetáculo “Os cegos”. Foto: Arquivo pessoal de Laura Chaves.

Depoimento de Ricardo Leandro

“O meu primeiro trabalho foi “E Agora Drummond?” com o grupo Quilombo e a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Eu tinha acabado de chegar de São Paulo e era aluno do Newdemar de Souza no CAC. Eu já tinha assistido a peça no Sesc e fiquei impressionado com a interpretação dos atores. Era muita precisão, não tinha buraco, uma cena amarrava a outra, fiquei impressionado de encontrar uma peça assim fora do circuito Rio/São Paulo. Um dia no CAC, o Dema me chamou para fazer uma esquete nesta peça e por fim ganhei a poesia ” A Flor e a Náusea”. Quem fazia essa poesia era o Jaime Stabile, ex- esposo da Iara Ribeiro. Foi muito bacana porque não era declamação de poesia, era interpretar, entender o que Drummond dizia. É claro que eu fazia tudo intuitivamente. Eu comecei então a ler todos os poemas do Drummond. Como sempre fui apaixonado por teatro, eu li Drummond de cabo a rabo. Eu não tinha, como muitos da época, uma formação acadêmica, mas tinha uma coisa, como diz Antunes Filho, o talento e vocação. Mas nas discussões intelectuais eu era péssimo, não tinha esse exercício de ler, entender e argumentar. Mas quando eu ia para o palco, ali era o meu entendimento. Fizemos várias apresentações de Drummond em Maringá, porque nesta época nosso circuito era Maringá/Maringá, não existia as possibilidades de circulação de grupos como hoje, era muito local, tudo ali. Às vezes apresentávamos em outras cidades vizinhas, como foi o caso de Campo Mourão, mas não era sempre. A gente vendia os ingressos para os amigos. O Drummond, posso dizer hoje, que é o maior poeta que temos. Ele é político, ousado, apaixonante e tem uma maneira de escrever muito especial. Um poeta da estilística da repetição. Eu li este livro para entender Drummond,  “Estilística da Repetição”. Não me lembro o autor. Isso era o E Agora Drummond? Um espetáculo que questionava a condição do homem, o que fazer na hora do aperto, da injustiça, “E Agora Drummond? E Agora José? E Agora Você? E Agora Rachel?. Isso sem falar do processo de ensaios. O Dema era exigente com o Quilombo neste período, ele se preocupava muito com a qualidade do trabalho dos atores, era uma maravilha! E eu ficava encantado. Eu tinha chegado de processos em Santo André com a Miriam Volpolino, que trabalhou com o Cacá Carvalho. Mas ainda eu era muito cru, mas talentoso, vocacional, persistente. E o cartaz era feito de cartolina, acredita? O Dema fazia a tela da serigrafia e a gente comprava cartolina, fazia vaquinha e daí saíam os cartazes. Eu adorava andar na cidade e ver meu nome nas cartolinas (cartaz). Essa Secretaria de Cultura era uma merda, não tinha projetos de nada, era muito amador esses gestores. Mas o CAC existia, e dava vida. Acho que isso foi a coisa boa. A Rô Fagundes também dava aula no CAC. Mas confesso: aqui a gente era uma geração de teatro, de palco, gente que amava o que fazia, sem ego, sem estrelismo, sem essa coisa de pensar em tv. Ali a gente pensava no nosso trabalho, no nosso grupo. Era um grande prazer! Um beijão a Jaime Stábile, Gerson Barros (que virou transsexual), Paulo Goto, Iara Ribeiro e ao Newdemar Souza”.

Reportagem sobre espetáculo "E agora Drummond?". Foto: Arquivo pessoal de Ricardo Leandro.

Reportagem sobre espetáculo “E agora Drummond?”. Foto: Arquivo pessoal de Ricardo Leandro.

Depoimento de Iara Ribeiro

“Embora já fizesse teatro desde os sete anos e já realizasse trabalhos e pesquisas artísticas desde 1986, foi em 1992 que procurei um grupo que viesse ao encontro da continuação do meu pensamento artístico. Alguns com formatos elitistas foram logo descartados pela então adolescente, até que um colega me falou sobre a proposta de Newdemar de Souza, da Cia Quilombo. A proposta não era “ovacionar egos” e nem “competir”, mas sim falar sobre a poesia da arte e como a arte poderia ser transformadora. Um verso de um poema do Grupo: “Quilombo de luta contra os fios da puta”, foi uma resposta imediata. Eu queria participar de um grupo de teatro que tivesse uma história de luta, de pensamento revolucionário, que falasse de alguma forma contra o capitalismo, o estrelismo na Arte, os descasos e encontrei neste grupo um acalento. Newdemar de Souza nos incitava à leitura e ao conhecimento teórico, nomeando e comentando grandes nomes do Teatro e as oficinas eram intensas e me tornavam dona de minha escuta corporal, livre para a criação. Não havia recursos financeiros para figurinos ou cenários, porém nunca achei e não acho até hoje que o “poder” de um espetáculo estão nos cenários, maquiagens ou figurinos, que às vezes só enfeitam a cena para esconder uma interpretação fria ou um texto vazio. Enfim, após várias oficinas, chegou o momento de montar o espetáculo. Tive a sorte de participar de um espetáculo que era uma coletânea de poemas do grande velhinho de Itabira: Carlos Drummond de Andrade. As poesias dele são ímpares e singelas, fortes, apaixonantes e aventurar-se criando uma dramaturgia corporal que pudesse contar a história de cada poema era muito instigante. Uma turma mais velha do Quilombo já estava com este espetáculo pronto e eu assistia todos os ensaios, mentalizava todos os poemas e torcia para ser chamada, até que chegou a minha hora, a hora de subir no palco com o Quilombo pela primeira vez. Dizer o que senti? Não sei explicar como foi a sensação dos meus pés tocando o chão de madeira do Teatro, sentir o cheiro do teatro, a luz que me cegava e não deixava eu ver os olhos do público,  a ansiedade e a paixão dilacerante, misturada com uma pitada de nostalgia, difícil dizer, mas tão amável relembrar. Mais   acredito que a resposta é única pra mim:  porque o espaço da arte é mágico, devastador, revelador e singularmente humano. Viva, assim que me senti: viva! 

Apresentamos este espetáculo várias vezes, sempre com um público misto: os que se identificavam com poesias aplaudiam em pé e os que queriam apenas teatro com “texto”, atores ditos “famosos” ou outros estilos, saíam com uma certa pretensão nos olhos, mas os caminhos são inúmeros e cabe a cada qual escolher o seu.  Os ensaios eram feitos no antigo Salão da UNE,  no CAC, na Rua… eram momentos que aconteciam de verdade, por isso nunca devem ser esquecidos.

Alguns colegas que infelizmente não vejo mais estiveram comigo em cena não só neste espetáculo como em outros: Jaime Stábile, Wesley Delconti, Dionéia, Sheila, Gerson, Ricardo Leandro, Adriano de Souza, Maurício Peggo, Alessandra Marinho, José Ferreira e a figura argumentativa, inteligentíssima e muito peculiar que é Newdemar de Souza. Minha gratidão imensa pela sua colaboração na minha formação, longe dos estereótipos acadêmicos e das “bibelagens” que queriam e ainda querem impregnar na Arte.

Resistência. Essa é a fonte da Cia em que participo hoje. E que humanamente possamos ser fortes, vivos e revolucionários”.

pau de fita

Espetáculo “Pau de Fita”. Foto: Arquivo pessoal de Sueli Lara

Depoimento de Sueli Lara

“O nosso primeiro trabalho em Maringá foi no ano de 1976 com a montagem “Pau de Fita”, com o Grupo Pau de Fita. Foi o ano de fundação do grupo. O espetáculo foi uma adaptação do Leonil do texto do Marcial Temporal e André Chalés Jefe para o boneco, com direção dele também. Na época o grupo era composto pela família e o nosso objetivo era Boneco/Mamulengo, que continua sendo.

Direção: Leonil Lara

Elenco: Sueli A. de Souza, Sansão Lara, Sonia Lara, Jose Ari de Souza, Leonil Lara.