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Teatro de Anônimo em Maringá

No próximo final de semana, dias 3 e 4 de outubro, Maringá receberá sua primeira etapa do projeto Palco Giratório. O espetáculo será “In ConSerto”, do Teatro de Anônimo (Rio de Janeiro). A apresentação será às 20h30 na Oficina de Teatro da UEM, com entrada gratuita. Também será ministrada uma oficina sobre o jogo como técnica. Mais informações no SESC (3262-3232).

Já assisti a um espetáculo deste grupo e achei muito divertido. Acho que vale a pena prestigiar, principalmente quem se interessa por circo-teatro.

Sobre o espetáculo:

Foto: Gustavo Gracindo

“In ConSerto”, do Teatro de Anônimo (RJ). Foto: Gustavo Gracindo

A estrutura de “In Conserto” mora no jogo clássico dos velhos palhaços, aquele que busca o riso nos moldes da tradição cômica. Eis um dos maiores desafios dessa pesquisa do grupo: reproduzir ou recriar o universo já experimentado por nobres palhaços de todo o mundo, em todos os tempos. Em cena, um clássico trio de músicos de orquestra apresenta uma infinidade de gag’s tradicionais e, tirando partido de uma partitura essencial, joga com a plateia criando a essência desse brinquedo cênico. Veja um trechinho aqui.


Perfil: Evandro Manchini

Hoje a Toca da Coelho vai publicar o perfil de um jovem ator e cineasta que até poderia ser galã da Rede Globo, só que não. Evandro Manchini, que atualmente mora no Rio de Janeiro, faz teatro, cinema e vídeos. É dono de um canal no Youtube, o Pingo na Pia, que já tem mais de 45 mil seguidores. Evandro nos contou um pouquinho de sua história numa entrevista super bacana feita por e-mail.

Ele nasceu em Apucarana e veio para Maringá aos oito anos de idade. Aqui viveu entre os anos de 1996 e 2004 e considera que foi neste período que seu envolvimento com arte começou. Evandro concedeu uma entrevista super bacana por e-mail, onde nos conta um pouquinho de sua história e destaca alguns de seus trabalhos.

“Assim que cheguei em Maringá, comecei a fazer aulas de improvisação teatral com a Flor Duarte. Ela tinha uma academia de dança/teatro e foi lá que a minha cabeça começou, de fato, a se abrir para as artes. É claro que, antes disso, como toda criança que tem algum tipo de aptidão artística, eu já experimentava meu lado lúdico das mais diversas formas: ora criando minisséries com a câmera caseira do meu pai (e convencendo os meus amigos do colégio a serem atores), ora passando a tarde toda escrevendo matérias para a “Sorriso”, revista criada por mim no Word e que teve três edições!”, lembra.

Evandro (de preto) dança com Dai Fiorati em espetáculo da Trianon

Evandro (de preto) em espetáculo da Cia. Trianon, ao lado de Dai Fiorati.

Desta fase da carreira, ele enumera os trabalhos: “O inimigo do povo”, de Henrik Ibsen (1998); “Aurora da minha vida”, de Naum Alves de Souza (2002); “O Califa da Rua do Sabão” de Artur Azevedo (2003); “Tap Trianon”, espetáculo de sapateado (2003); “O gato de botas vermelhas”, de Yoya Wursch (2000) e “O doente imaginário”, de Molière (2000). Todos os projetos foram feitos com a Cia Trianon de Teatro e dirigidos pela Flor Duarte.

“Éramos muito jovens e tínhamos um grupo muito unido, uma verdadeira família. Nos apresentamos em algumas cidades do Paraná, ganhamos alguns prêmios mas, acima de tudo, foi ali que tive uma primeira noção do real ofício do ator. Os amigos que fiz lá levo comigo até hoje”, diz.

Buscando a profissionalização, Evandro teve pelo menos dois motivos para sair de Maringá: a inexistência de uma graduação em Artes Cênicas naquela época e o desejo de estudar na famosa CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, por saber que lá haviam estudado grandes nomes. “Depois que me formei, fiz também faculdade de Cinema na Estácio. No início, apesar de ser uma grande paixão, encarei o curso de Cinema como um plano B, como uma possibilidade de trabalhar em diversas áreas, caso a carreira de ator não desse certo. Aos poucos esse pensamento foi se desfazendo e o cineasta que eu sou hoje está em constante diálogo com o meu ator”, conta.

Uma vez no Rio de Janeiro, vieram diversos trabalhos dos quais Evandro tem orgulho. Ele contou um pouquinho de cada.

Um fausto. Foto: Felipe O'Neill

“Um-Fausto”. Foto: Felipe O’Neill

“No teatro, existem alguns trabalhos que foram bem significativos pra mim, como:

“Um-Fausto”, espetáculo solo dirigido pelo londrinense Daniel Belquer, inspirado no texto “Primeiro Fausto”, de Fernando Pessoa (2013/2014). Com uma linguagem multidisciplinar (teatro / performance / dança / video-arte / canto / tecnologia), nós ficamos em cartaz no Espaço Sesc Copacabana e depois fomos convidados para integrar a programação do FIART (Festival Internacional de Arte e Tecnologia), que aconteceu em janeiro deste ano no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.

"Philippine - uma peça para Pina Bausch". Foto: Clayton Leite.

“Philippine – uma peça para Pina Bausch”. Foto: Clayton Leite.

“Philippine, uma peça para Pina Bausch” (2014) – com a Hospedaria Cia de Teatro. Desde que comecei meus estudos sobre as artes cênicas, logo me apaixonei pelo trabalho da coreógrafa alemã Pina Bausch. Este espetáculo foi uma espécie de homenagem para ela, tendo como fio condutor depoimentos de bailarinos, amigos e textos que falavam sobre a ausência de um modo geral. O legado de Pina, para mim, talvez seja um dos mais importantes que existem.

"Bent". Foto: arquivo pessoal.

“Bent”. Foto: arquivo pessoal.

“Bent”, texto de Martin Sherman e direção de Luiz Furlanetto. Teatro das Artes – 2011. Lembro com carinho deste trabalho porque ele foi bem desafiante. A peça retrata a perseguição aos homossexuais durante a Segunda Guerra Mundial e eu interpretava Greta, um transformista dono do cabaret mais famoso da cidade que precisou fugir para não ser morto. Além de pesquisar a dupla faceta da personagem (masculino e feminino), eu cantava e tinha que depilar o corpo inteiro.

Curta-metragem "Entre 3 e 7 minutos".

Curta-metragem “Entre 3 e 7 minutos”.

“Entre 3 e 7 Minutos” (2010) foi um espetáculo criado em parceria com dois grandes amigos: Pedro Emanuel e Matheus Mattos. Um trabalho 100% autoral e que depois virou um curta-metragem, rodado em 16mm e dirigido por mim. Ficamos em cartaz durante dois meses no Teatro Laura Alvim e o filme participou de alguns festivais. 

"Abram-se os histéricos". Foto: arquivo pessoal.

“Abram-se os histéricos”. Foto: arquivo pessoal.

“Abram-se os histéricos!”, texto de Antonio Quinet e direção de Regina Miranda (2012). Esse espetáculo ficou em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal e teve uma segunda temporada no Teatro Tom Jobim. Foi um aprendizado muito grande porque o autor da peça, Antônio Quinet, é um psicanalista muito renomado e o meu personagem era o jovem Dr. Freud, começando seus estudos sobre histeria através das aulas do Prof. Charcot. Eu, que sou completamente apaixonado pelo processo analítico, encarava cada ensaio como uma nova descoberta. Fora isso, tive a oportunidade de trabalhar com Lourival Prudêncio e Marina Salomon, artistas que admiro e que tinham sido meus professores na CAL. 

"Tatata no mundo da Luanda". Foto: arquivo pessoal.

“Tatata no mundo da Luanda”. Foto: arquivo pessoal.

“Tatata no Mundo da Lua…nda!” (2012). Com a Cia de Teatro Infantil Andrea Tatata, fui para a Angola (Luanda) levando este espetáculo em comemoração ao Dia Internacional das Crianças. Sempre gostei de teatro infantil e foi uma experiência única! A recepção das crianças angolanas foi algo realmente emocionante.

Recebendo prêmio pelo curta "Tá na hora"

Recebendo prêmio pelo curta “Tá na hora”

No cinema, existem dois trabalhos que gosto muito. O primeiro é o curta “Tá na Hora”, dirigido em parceria com Carol Bradilli e que teve uma carreira muito bonita. O filme foi todo gravado com uma webcam e ganhou o Festival Cel.U.Cine, Menção Honrosa no Curta Criativo 2011 da Firjan e Melhor Curta do Rio no Festival Internacional de Filmes Curtíssimos. O segundo é “Obrigada por me deixar assim” (2013), primeiro curta produzido pela minha produtora – a Pingo na Pia – e dirigido por mim, que tem no elenco a atriz Dai Fiorati, também maringaense e minha amiga há quase 20 anos. Tivemos a maior votação online dentro do Festival de Cinema de Taguatinga e eu fui até lá para apresentar o filme e participar de mesas de debates”.

Diferentemente de outros artistas sobre quem já falamos na Toca, Evandro teve uma oportunidade de voltar a Maringá para apresentar um de seus trabalhos. Em 2009 ele trouxe “O que brota do concreto”, espetáculo dirigido por Daniel Belquer e que ele define como “uma proposta bem pós-dramática, com músicas, projeções, movimentações e depoimentos pessoais dos atores, que se misturavam em uma dramaturgia mais híbrida, possibilitando assim as mais variadas interpretações sobre a peça”. Foram duas apresentações no Teatro Barracão.

Em 2011 criei, junto com a minha sócia Flávia Prosdocimi, a Pingo na Pia Ideias e Produções Culturais. A Pingo produz videos institucionais, curtas-metragens e videos para a web. O nosso canal no youtube (hoje com mais de 45.000 inscritos) tem um conteúdo diversificado e estamos constantemente postando novos formatos: às vezes mais bem humorados, às vezes mais artísticos e até pequenas esquetes de cunho político. Através dessa produção para a internet, conseguimos um reconhecimento legal em alguns meios de comunicação. Do que existe lá, os que mais gosto são:

“(sub)Textos”

“$urreal”

“Festa da Carne”

“Indigestão”

Fora isso, Evandro continua na luta diária, participando de testes para espetáculos e publicidade e inscrevendo seus próprios projetos em editais. Sempre que possível visita os parentes que ainda moram aqui e sente saudades. “Sinto saudades também de comer o cachorrão de Maringá (único no mundo e o mais gostoso que já provei), pastel na feira toda quarta-feira, da festa nipo-brasileira e jogar sinuca com meus amigos depois das aulas no Nobel”, revela.

Seu conselho para os estudantes de Artes Cênicas: “Sejam empreendedores! Na carreira artística nada é muito fácil e tudo tem que ser plantado. Encabecem seus projetos, deem vasão ao que vocês querem falar. É possível também realizar projetos sem muito dinheiro, através de crowndfunding por exemplo (eu mesmo já produzi um curta e uma peça com essa ferramenta). É claro que ganhar dinheiro com a profissão é importante, é claro que existem os famosos “Q.I’s” (quem indica) e uma boa dose de sorte sempre será bem vinda, mas contar somente com isso é, de alguma forma, negligenciar a própria vocação do ator. Para além do resultado, teatro é processo. E é no processo que descobrimos os nossos reais desejos enquanto artistas”. 


Setembro dos festivais

Sabe aquele desejo de estar em vários lugares ao mesmo tempo??? Então …setembro chegou trazendo essa vontade com tudo!

Começa hoje em Santos o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, que vai até o dia 13. O festival terá 14 companhias nacionais e 25 internacionais; 40 espetáculos; intervenções artísticas; atividades formativas e programação especial para crianças, com apresentações no Sesc Santos, em diversos outros espaços da cidade, como teatros, praças, parques, monumentos e ainda percorrerá as cidades de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Praia Grande, São Vicente e Peruíbe com apresentações para crianças. México, Argentina, Bolívia, Chile (país homenageado nesta edição), Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, Paraguai e Peru são os países convidados. Essa é a terceira edição do festival, que é bienal.

Meus destaques da programação nacional (ou aquilo que eu gostaria de ver):

Foto: Rafael Telles

Foto: Rafael Telles

– O Clowns de Shakespeare, de Natal (RN), faz a pré-estreia de seu mais novo trabalho, “Nuestra Senhora de las Nuvens”. Construído com dramaturgia de Aristides Vargas (autor que fugiu da ditadura argentina e se exilou no Equador), o grupo investiga as relações da memória e identidade. somando também as experiências provocadas pelo golpe militar brasileiro de 1964. Aproximando o realismo fantástico-surrealista do político-épico, as histórias são apresentadas por quatro atores, tendo por fio condutor os encontros entre Oscar e Bruna. A narrativa permeia o universo do exílio através do humor, violência, crítica e lirismo, expondo a estrutura do discurso político.


Foto: Jennifer Glass

Foto: Jennifer Glass

– Zé Celso leva seu “Walmor y Cacilda 64 – Robogolpe” ao festival, percorrendo as montagens e os ensaios de Cacilda Becker como meio de narrar o ontem e o hoje, buscando suas semelhanças e refletindo sobre os 50 anos do golpe militar no Brasil. Penso que Zé Celso é daqueles ícones do teatro que sempre valem a pena ver, pois até a recriação do Teatro Oficina em outra cidade já é, por si só, interessante.


Foto: Cacá Bernardes

Foto: Cacá Bernardes

– A Cia São Jorge de Variedades leva dois espetáculos: “Fausto” e “São Jorge menino”. O primeiro comemora os 15 anos do grupo, que é um dos mais interessantes de São Paulo.  Conta a história do homem que vendeu sua alma ao demônio para obter mais conhecimento; metáfora precisa sobre o afastamento do indivíduo, da alteridade, da natureza e do outro, que tanto determina ao presente. O texto de Goethe foi adaptado por Alexandre Krug, Claudia Schapira e Georgette Faddel. As duas últimas assinam a direção.

Foto: Cacá Bernardes

Foto: Cacá Bernardes

Já “São Jorge menino” surgiu a partir de um convite feito ao dramaturgo e diretor Ilo Krugli, fundador do Teatro Ventoforte, para construir uma dramaturgia a partir de figura de São Jorge. A resposta é um espetáculo em espaço aberto, em forma de um grande cortejo cênico, tornando a rua um espaço poético. As crianças e seus familiares, protagonistas tanto quanto os artistas, celebram o encontro enquanto investigam o tempo e o espaço das festas e rituais com a história de um menino que dormia e foi confundido com a figura do santo, levando-o a viver uma grande aventura e a descoberta do amor.


Foto: Otávio Dantas

Foto: Otávio Dantas

– “02 ficções”, da Cia Hiato, surge como resposta aos estudos que deram origem ao projeto Ficções, sequência de seis solos nos quais a narrativa se aproximava da biografia dos atores. Agora, “02 Ficções” parte da memória do próprio diretor e dramaturgo da companhia, Leonardo Moreira, para construir um jogo sobre o fazer teatral, apoiando-se nos universos de Tchekhov e Ian McEwan. Dividido em duas plateias distintas, o público tem a possibilidade de visitar o trabalho e assisti-lo por diferentes acessos: em um, pessoal e íntimo (coxia); no outro, mais estruturado como um espaço de teatro (plateia).


Foto: João Caldas

Foto: João Caldas

– “Terra de santo”, da Cia Os fofos encenam (SP). A parábola familiar reaproxima a companhia do universo da cana-de-açúcar como meio de compreender as estruturas fundantes do Brasil. Agora, a religiosidade e a estruturação da tradição por meio do sagrado conduzem à série de cinco movimentos apoiados nos livros bíblicos – Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio -, cada qual estruturando simbolicamente um século, desde 1500 até o ano 2000.


Foto: Chistiana Carvalho

Foto: Chistiana Carvalho

– “Puzzle (a)”, da Cia Ultralíricos (SP). Integra uma série de espetáculos criados para representar o Brasil na Feira de Literatura de Frankfurt. Partindo da leitura de dezenas de escritores brasileiros e encontrando silêncios e falas comuns, Felipe Hirsch escolheu os textos, compondo uma experiência em pedaços distintos. Direção Geral e Idealização: Felipe Hirsch. Elenco: Georgette Faddel, Isabel Teixeira, Javier Drolas, Jorge Emil, Luíz Päetow, Luna Martinelli, Magali Biff e Rodrigo Bolzan. Penso que deve ser um espetáculo difícil, mas sou muito curiosa para ver.


Foto: Adriana Marchiori

Foto: Adriana Marchiori

– “Cidade proibida”, da Cia Rústica (RS). O espetáculo traz diversas intervenções cênicas realizadas em locais públicos da cidade, proibidos durante a noite devido ao seu histórico violento. Convidado a ocupá-los junto com o grupo, o público participará de saraus, serenatas, cabarés artísticos, piqueniques e ceias noturnas, sempre conduzidos por diversas linguagens artísticas, como teatro, dança e música. A Cia. Rústica subverte a condição de isolamento desses espaços, recuperando sua realidade no contexto da cidade e provocando as pessoas a vivenciar outro grau de envolvimento com a estrutura urbana. O espaço público, então ameaçado de abandono, renova, assim, sua condição poética-social ao ser ocupado pelas pessoas e pelos discursos artísticos.


"Tchekhov". Foto: José Tezza.

“Tchekhov”. Foto: José Tezza.

O Paraná estará representado pela Ave Lola Espaço de Criação, de Curitiba, com seu “Tchekhov”. Construída em dois atos, os universos e os personagens do conto Aniuta e da peça A Gaivota oferecem uma fábula sobre o próprio escritor e suas relações com importantes nomes do teatro russo, como Constantin Stanislavski e Nemirovitch-Dântchenko, enquanto o Teatro de Artes de Moscou desenvolve a originalidade da linguagem teatral e a metodologia que irão influenciar os artistas até a atualidade. O espetáculo conta com trilha original de Jean-Jacques Lemêtre, compositor do Théâtre Soleil, uma das mais importantes companhias da cena contemporânea, com quem o grupo tem realizado diversas aproximações.

Tem também o “Irmãos de Sangue”, da companhia franco-brasileira Dos à Deux, que acabei de ver no Filo e recomendo muito. Os destaques internacionais deixo para os especialistas, pois eu não tenho as referências necessárias para dar indicações ou escolher espetáculos, pois pouco consigo acompanhar desse teatro. Mais informações sobre o festival estão disponíveis aqui.

***

Em Porto Alegre também começa hoje o 21º Festival Internacional de Artes Cênicas – o Porto Alegre em Cena. Vai até dia 22. Taí um festival para onde eu já tentei ir e não consegui. Há anos fico apenas no desejo, sempre acompanhando de longe as informações.

Meus destaques nacionais:

Foto: Cacá Bernardes

Foto: Cacá Bernardes

A MORTE DE IVAN ILITCH (SP)

Inspirado na consagrada obra de Lev Tolstói, A Morte de Ivan Ilitch, espetáculo homônimo do Núcleo Caixa Preta, apresenta a trajetória patética de um homem mediano, que no auge de sua ascensão profissional, torna-se moribundo. A encenação instiga o espectador a pensar sobre as afinidades que podem surgir dos meandros entre a literatura e o teatro, a Rússia e o Brasil, através de seu caráter político e metafísico, permeando e unificando diferenças.

O espetáculo recebeu duas indicações ao Prêmio SHELL de Teatro/SP 2013: Melhor Atriz (Cácia Goulart) e Melhor Iluminação (Lúcia Chedieck).


Foto: André Fossati

Foto: André Fossati

GET OUT (MG)

Terceiro espetáculo de repertório do grupo Quatroloscinco, uma experiência autoral de Assis Benevenuto.  A encenação aborda a capacidade e a necessidade de envolvimento em uma ficção, habilmente fazendo uma crítica às imagens tão comuns que ditam nossos pensamentos em sociedade. Com um jogo cênico aberto e direto, uma linguagem e uma atuação que aproximam o público, o autor-ator busca diferentes relações com os espectadores, criando assim vetores do discurso que se desenvolvem ao longo da peça.


Foto: divulgação

Foto: divulgação

HOMENS, SANTOS E DESERTORES (RJ)

Com potentes atuações de Ricardo Blat e Nelson Yabeta, “Homens, Santos e Desertores” é um espetáculo baseado no texto do autêntico dramaturgo Mário Bortolotto que aborda temas como a passagem da adolescência para a vida adulta, o bullying e a inadequação social, através da relação de duas personagens sobre as quais pouco se sabe.

Um garoto desinteressado pela vida, fruto de uma família desestruturada, sem amigos e sem namorada, conhece um homem com o qual se identifica e, apesar da diferença de gerações, compartilham referências musicais e literárias.  A partir deste encontro, vem à tona a discussão sobre o sentimento de inadequação de personagens que propositalmente parecem optar pela infelicidade como única maneira de sentirem-se autênticos em um mundo onde todos parecem querer fazer parte de alguma coisa, seja ela qual for.


Foto: Guto Muniz

Foto: Guto Muniz

HUMOR (MG)

Espetáculo de repertório do grupo Quatroloscinco, marca seu sétimo ano de pesquisa e prática teatral continuada. A obra parte dos diversos significados da palavra humor para explorar as manifestações corporais, os líquidos que correm dentro do organismo: nossos humores, os motores que nos fazem continuar existindo.

A montagem traz à tona a relação do homem com a passagem de tempo e com a ininterrupta e lenta morte do corpo, jogando com as afetações e os estados emocionais para construir uma cena excêntrica em um lugar indeterminado entre a comédia e o drama.


Foto: Léo Aversa

Foto: Léo Aversa

INCÊNDIOS (RJ)

Uma tragédia épica contemporânea capaz de transportar o espectador a atmosferas diversas. A montagem de Aderbal Freire-Filho, protagonizada com maestria pela grande atriz Marieta Severo, se vale da própria poética da cena para expressar as situações reais criadas pelo autor.

A escrita de Wajdi Mouawad, apontado como um dos grandes dramaturgos contemporâneos, é marcada por situações devastadoras: guerras, exílios, perdas e injustiças. Não à toa, Incêndios obteve dezenas de prêmios, elogiadas produções ao redor do mundo e um longa-metragem homônimo, dirigido por Denis Villeneuve.

A encenação de Aderbal Freire-Filho recebeu Prêmio Shell 2013 de melhor direção e Prêmio APTR 2013 em quatro categorias: melhor espetáculo, melhor atriz para Marieta Severo, melhor atriz coadjuvante para Kelzy Ecard e melhor cenografia.


Foto: divulgação

Foto: divulgação

QUARTETO (BA)

Espetáculo que celebra os 15 anos de trajetória teatral de Gil Vicente Tavares, é inspirado no romance As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos. A montagem da companhia Teatro Nu coloca em cena dois atores que interpretam as quatro principais personagens da trama, enredando-se num jogo crescente de sedução, vingança, prazer e destruição.

Na peça de Heiner Müller, esta mesma história ganha contornos que vão além de um quadro da decadente França do Antigo Regime, ganhando um tom mais filosófico e perverso, numa linguagem iconoclasta, ácida e contemporânea, em que o cenário aproxima-se de algo devastado, como se tudo tivesse explodido e aqueles dois seres estivessem ali definhando em suas desgraças.


Foto: Daniel Seabra

Foto: Daniel Seabra

TRÍPTICO SAMUEL BECKETT (SP)

O Club Noir, com direção de Roberto Alvim, promove uma síntese da obra de um dos maiores dramaturgos do século XX, Samuel Beckett, concretizando cenicamente suas questões formais e existenciais, em uma trajetória que principia dentro da mente do artista (em Para o Pior Avante); se abre para cada um dos membros da plateia, na incitação/invenção/apropriação de memórias (em Companhia); e decanta na alteridade: a presença de umoutro que coexistirá conosco, estranho e, ao mesmo tempo, reconhecível (em Mal Visto Mal Dito).

Em cena, as atrizes Nathalia Timberg, Juliana Galdino e Paula Spinelli personificam uma mesma mulher – que personifica toda a humanidade, com suas dores, perplexidades, medos, fragilidades e anseios – e promovem uma jornada pelas principais questões formais e existenciais abordadas pelo autor em sua singular e inventiva escritura.

Mais informações sobre a programação do Porto Alegre em Cena estão aqui.


Também a partir de hoje e até o dia 21 o Festival do Teatro Brasileiro leva um pouquinho da cena baiana para São Paulo, com grupos que vão do Bando de Teatro Olodum aos solos de Fábio Vidal (“Joelma”) e Igor Epifânio (“A arte de matar galinhas”), entre outros.  Saiba mais aqui.

Até o dia 7 ainda está rolando o Filo aqui pertinho.  Veja aqui o que ainda dá para assistir.

E tem muito mais coisa por aí …

dia 6 começa o Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, interior do Ceará, de onde guardo deliciosas lembranças. A programação traz um panorama interessante do teatro daquela região (confira aqui). Dia 11 começa o Filte Bahia – Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia, que vai até dia 21 (saiba mais aqui). Também no Nordeste, dia 12 começa a Mostra Internacional de Teatro (MIT), com 30 apresentações, sendo dez da Paraíba, 16 de outros Estados e quatro internacionais (Argentina, Chile e Espanha). Detalhes nessa reportagem.

De 19 a 28 de setembro ocorre no Rio de Janeiro o FIL – Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens, também muito interessante. Quem estiver por esses lugares não pode perder. Quem não estiver, passa vontade.


Perfil: Dai Fiorati

Arquivo pessoalDaiany Fiorati, ou simplesmente Dai, é maringaense, tem 28 anos e é atriz. Concluiu o Bacharelado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e fez o curso de qualificação profissional de atores da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), também no Rio de Janeiro, cidade onde atualmente reside e trabalha.

Ela nos contou um pouco de sua trajetória profissional em um relato poético e emocionado, enviado por e-mail. Confira abaixo os principais trechos.

“Meu começo de carreira se deu antes mesmo de eu aprender a ler e a escrever, quando eu era muito, mas muito, pequena – eu fazia muitos cursos de manequim, desfiles e comerciais. Depois, já um pouco mais grandinha, comecei a participar ativamente dos eventos culturais do colégio com meu primeiro professor de teatro, o Pedro Ochoa.

Também reunia muitas crianças do prédio para brincar de teatro: eu inventava as peças, dirigia as crianças e também atuava. Esse comportamento chamou a atenção da minha avó paterna, Alice, que mandou minha mãe me colocar em um curso de teatro fora da escola. Foi aí que conheci a Flor Duarte.

gato

Dai (primeira à direita) com o elenco da Cia Trianon e Flor Duarte.

Fiz seu curso de atores por seis anos e fui integrante da Companhia Trianon por sete anos. Durante esse tempo, montamos três peças profissionais: “O gato de botas vermelhas”, de Yoya Wursh (2000); “Aurora da minha vida”, de Naum Alves de Souza (2002) e “O Califa da rua do sabão”, de Arthur Azevedo (2003), todas dirigidas pela Flor Duarte. Todas as peças ficaram em temporada e também viajaram a outras cidades pelo Paraná, participando de festivais e eventos. Montamos também muitos espetáculos de fim de ano do curso, mais as aulas e apresentações de sapateado, porém, quando eu fazia e estudava teatro em Maringá, era muito jovem e por isso não sentia a necessidade de me profissionalizar. Para mim era uma diversão, o esconderijo predileto de menina que sonha, que quer o mundo, mas que, ao mesmo tempo, tem uma vida normal: colégio-amigos-cinema-shopping-televisão-internet.

O tempo foi passando e durante os processos das peças montadas nessa companhia da qual eu fazia parte, a Companhia Trianon, comecei a me questionar a respeito do meu futuro e da minha escolha profissional. Nessa época estava com cerca de 14 para 15 anos e acabei passando por um processo muito interessante de criação, no qual montamos a peça “Aurora da Minha Vida”, do brasileiro Naum Alves de Souza. Ali, naquele processo, decidi que queria, de fato, ser atriz.

Viajamos muito com a peça, participamos de festivais e eu ganhei um prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em um festival de Paranavaí, sem falar em todos os outros prêmios que a peça ganhou. O processo dessa peça foi muito profundo e hoje, penso que foi um passo determinante na minha vida.

Depois de fazer a escolha, aí sim me deparei com os desafios de desejar me profissionalizar morando em uma cidade do interior. O fato é que eu continuei mais um tempo na companhia e comecei a fazer o curso de Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), curso este que eu acreditava ser o mais próximo da minha escolha profissional. Cursei dois anos e acabei trancando para vir, finalmente, me profissionalizar no Rio de Janeiro. É importante lembrar que naquela época a UEM ainda não disponibilizava o curso de Artes Cênicas, como hoje, fato que considero ser extremamente relevante no sentido de dar oportunidades para grupos de artistas se formarem, gerando polos de criação e, consequentemente, novas manifestações artísticas e em maior quantidade, bem como sua procura pelo grande público.

Quando vim para o Rio, o papo foi outro. Decidi me profissionalizar primeiro para depois fazer carreira. Comecei o curso na CAL e depois a UNIRIO. Quando eu estava para terminar a UNIRIO, e também já tinha me profissionalizado na CAL, feito alguns trabalhos no teatro, no cinema e algumas participações na televisão, fui convidada para fazer parte da série “Clandestinos”, de João Falcão, na TV Globo. Foi um convite totalmente inesperado – na época, inclusive, dei uma entrevista ao jornal O Diário sobre isso – e também foi um trabalho muito interessante, além de ter soado na época para mim como algo que estava trilhando seu próprio caminho, depois de tantas escolhas, sacrifícios e dedicação ao ofício, os frutos começavam a ser colhidos.

Dai em cena de "Clandestinos", minissérie de João Falcão.

Dai em cena de “Clandestinos”, minissérie de João Falcão.

Ainda na CAL tive o prazer de participar de projetos internos com a proposta de um cunho mais profissional em homenagem aos 25 anos de escola, como a peça “Equus”, dirigida por Hermes Frederico, em 2007. Também tive o privilégio de trabalhar com o Hamilton Vaz Pereira, na minha peça de formatura, “Agora, Aquele Sorriso”, em 2007, no Teatro Solar de Botafogo. Ganhei uma indicação ao Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro com a peça “Torpedos”, em 2011, direção de Alice Steinbruck.

"Vestido de noiva". Foto: Fábio Nagel.

“Vestido de noiva”. Foto: Fábio Nagel.

Em 2012, fiquei em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil com “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues e direção de Caco Coelho. Também fiz a peça “Desejo”, de Alice Steinbruck, inspirada no universo de Tennessee Williams, que ficou em cartaz no Teatro Solar de Botafogo, em 2012.

[Aqui, um parênteses:

tive a oportunidade de assistir a este espetáculo no CCBB do Rio de Janeiro. Vale destacar que foi apresentado em uma super estrutura montada fora do espaço dos teatros, em área de livre circulação, no meio de um dos centros culturais mais importantes daquela cidade. Os espectadores podiam assistir à montagem sentados e até deitados, dentro da estrutura circular. A montagem foi um grande sucesso de público, de modo que os ingressos eram disputados à tapa e eu, que estava de passagem pela Cidade Maravilhosa, consegui por pura sorte e persistência. No elenco estava a atriz global Viviane Pasmanter, num momento em que andava sumida da televisão. Aqui, um vídeo do diretor Caco Coelho falando um pouco sobre a montagem, que estreou no ano do centenário de Nelson Rodrigues. ]

Continua o texto de Dai Fiorati:

Também em 2012 comecei a fazer parte do projeto da peça “Antes que Você Parta pro Teu Baile”, espetáculo construído a partir da obra da poeta Ana Cristina César, dirigido por Dora Bellavinha e Lucas de Casttelo e cuja temporada se encerrou recentemente.

Antes que vc parta pro teu baile _ Ana Andrade

“Antes que você parta pro teu baile”. Foto: Ana Andrade

Em 2013 fiz a peça “Morada dos Ossos”, dirigida por Francis Ivanovich, que teve temporada no Teatro Solar de Botafogo.

Este ano vou estrear um novo espetáculo no dia 18 de julho, “Antiga”, com direção de Charles Asevedo e consultoria de Vera Holtz, escrito pelo dramaturgo contemporâneo Gustavo Damasceno e construído com base em depoimentos de senhoras.”

Sétima arte e televisão

No cinema atuei em sete curta metragens, dentre eles o curta “Obrigada por me deixar assim”, de 2012, dirigido pelo também maringaense Evandro Machini, que recentemente participou do Festival Taguatinga de Cinema, em Brasília, e foi o vencedor da votação prévia do público para a mostra competitiva, com 1082 votos pela internet.

Tive a oportunidade de, em 2013, ser convidada para fazer a assistência de direção do documentário “As mulheres que eu não fui”, de Clayton Leite.  

Gravei entre 2013 e 2014 meu primeiro longa metragem, “O Homem de Escrever”, de Francis Ivanovich, que acabou de ser aplaudido num festival na Colômbia.

Na televisão fiz inúmeras participações em novelas como Malhação, Cheias de Charme e Amor à Vida; uma pequena personagem na série Clandestinos, de João Falcão, na TV Globo; alguns trabalhos na Rede Record e no canal fechado Multishow e inúmeros comerciais gravados ao longo de todos esses anos, tanto em Maringá, quanto no Rio de Janeiro e São Paulo.

Também em 2013, idealizei, produzi e fiz parte do ensaio fotográfico “O Novo Homem”, que uniu em torno de 14 profissionais e aconteceu na praia de Grumari, no Rio de Janeiro.”

Ensaio fotográfico "O novo homem". Foto: Clayton Leite.

Ensaio fotográfico “O novo homem”. Foto: Clayton Leite.

Atual e futuro

“Em breve entrarei em cartaz no teatro, que é, na verdade, meu berço, minha escola primária e para onde eu sempre retorno, ainda com aquele desejo febril de artista.

Pelo cinema nutro uma admiração insana. Nos próximos meses gravarei mais dois curtas e já estou em conversação com o diretor sobre o próximo longa; sem contar nos frutos que têm começado a pipocar em festivais dentro e fora do país com os já realizados.

Minha agenda está fechada até o inicio de agosto desse ano com os espetáculos em cartaz e os filmes a serem rodados, depois pretendo fazer uma viagem para fora do país, estou me organizando para fazer alguns cursos voltados para o acting em cinema, a fim de desbravar a linguagem cinematográfica e adicionar à bagagem de atriz mais esse desafio.”

Próxima estreia. Foto: arquivo pessoal.

Próxima estreia. Foto: arquivo pessoal.

Enquanto isso, saudades…

“Meu vínculo com Maringá hoje é extremamente afetivo. Toda a minha família está aí, alguns grandes amigos, amizades de anos, de infância, colégio, faculdade. Gosto de visitar a cidade ao menos duas vezes no ano, acompanhar as escolhas dos amigos, pessoais e profissionais, ficar com minha família, ir a restaurantes preferidos. Recentemente, em uma visita rápida à cidade, vivi uma sensação que anotei, como sempre faço quando sinto esse pequeno vislumbre de poesia, pois me ajuda muito nos momentos de criação e acho que resume bem esse afeto grande pela cidade:

 “Saio do avião e já sinto o cheiro dos ares daqui, terra vermelha, plantação e vento gelado. Olho para o céu, a Lua está cheíssima, num espetáculo ambiguamente solitário e coletivo. Sorrio.”

Sinto saudade da simplicidade e da familiaridade. Digo isso com relação não somente a Maringá, que hoje é considerada uma grande cidade no Estado, mas sim às cidadelas em seu entorno. Tenho o privilégio de vir de uma família que lutou e viveu na roça, e acabou me passando a importância das coisas a que chamamos “simples” da vida, como o canto dos passarinhos, o cheiro da terra molhada com a chuva, uma flor que se abre, subir em árvore, pisar com o pé na grama, comer um feijão fresquinho feito por uma tia, tomar banho de mangueira, comer uma fruta tirada do pé, se juntar numa roda de viola com a família quando a noite cai. Essas vivências, essas sensações são as que eu sinto mais falta, pois são as que me faziam sentir acolhida e em contato direto com a natureza e com minha família, meus parentes, meus ancestrais”. 

Conselho aos estudantes

“Não sei se seria um conselho, gosto mais da palavra carinho. Se pudesse demonstrar um carinho por cada estudante de teatro de Maringá, seria com uma mão no ombro e essas palavras: vejo o trabalho do ator como um processo ininterrupto, um caminho, uma estrada, uma vida a ser percorrida. E neste percurso ocorrerão diferentes encontros com diferentes personagens, personas, afetos, histórias, textos e energias a serem trazidos a tona, a serem contados, a serem encontrados e que, independente do veículo, serão transformados em poesia por esse mesmíssimo ser humano, o ator, que na verdade, nunca é o mesmo, pois nós, seres humanos, estamos sempre em transformação”.

Cultura em Maringá

“Acredito piamente que a questão atual central para melhorar a vida cultural de Maringá já aconteceu, que foi ser efetivado o curso de Artes Cênicas na UEM. Esse, a meu ver, foi um passo importantíssimo e determinante para que, como disse acima, fervilhem polos de criação e cultura na cidade. Geralmente a graduação é composta por jovens, ao menos em sua maioria, e esse sangue novo circulando, de uns anos para cá, com o peso acadêmico em Maringá é muito renovador. Eu que fiz parte de uma graduação federal e pública em Artes Cênicas, vivi isso na pele. É inevitável, pois é mais forte do que qualquer coisa. O que quero dizer é que, quando se estabelece, se propicia encontros, somando a isso o nível acadêmico, a proteção de uma instituição, no caso a UEM, e os sonhos, a força, a vitalidade dos jovens, é até natural que comecem a se movimentar pelo espaço círculos de ideias, de criações, projetos, espetáculos, eventos, performances, etc. Isso vai se estabelecendo como uma rede e os veteranos desse movimento vão deixando uma cama para os novos, e assim por diante. É claro que toda plantação exige tempo. Para tudo existe tempo, o tempo das coisas. Mas, certamente, a semente já está plantada e germinando, a duras penas, não tenho dúvida – pois fazer arte neste país é travar uma guerra – mas já está, e isso não tem mais volta, enquanto houver aluno, enquanto houver curso, enquanto houver artista e enquanto houver quem procura, seja para fazer, seja para receber”.