Arquivo da tag: São Paulo

Lembranças de 2014: viagens

Das experiências que transformam…

No final de 2014, numa visita a São Paulo para encontrar meu namorado, tive o prazer de acompanhá-lo a uma visita de intercâmbio para conhecer a sede de dois grupos de teatro que eu ainda não conhecia pessoalmente (já tinha ouvido falar, acompanhava pelo Facebook e só).  Essa experiência está reverberando até agora em mim.

Primeiro fomos ao bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste de SP, visitar o Centro Cultural Arte em Construção. O espaço abriga atualmente o Instituto Pombas Urbanas e também os grupos Circo Teatro Palombar, Cia Teatral Aos quatro ventos e Núcleo Teatral Filhos da Dita, surgidos em oficinas do Pombas.

É quase inacreditável o que eles conquistaram. Desde 2004 ocupam um imenso barracão, antiga fábrica, que foi encontrado em situação bastante crítica. Reformado, hoje abriga o Teatro Ventre de Lona, tem grande atuação comunitária e, por conta disso, o reconhecimento de sua comunidade que vê a importância daquele lugar. As fotos mostram o que era o barracão antes e em que se transformou.

CAM01839

DSC05250

São oferecidas diversas oficinas gratuitas para a comunidade, suprindo uma lacuna na formação cultural e intelectual daquelas pessoas. O Centro também possui uma biblioteca com mais de 10 mil livros e mais de 3 mil pessoas cadastradas para retirar essas obras. Tudo organizado e cuidado com muito carinho.

O pessoal do Pombas Urbanas é muito preocupado em preservar sua memória. Mantém uma exposição permanente com material de seus espetáculos: fotos, cartazes, figurinos, adereços, objetos de cena e vídeo. Ano passado completaram 25 anos de existência e bem sabemos que isso não é para qualquer um.

O grupo surgiu de um processo de formação de atores desenvolvido pelo diretor peruano Lino Rojas (1942-2005). Após a morte do mestre, foi criada uma mostra de teatro de rua batizada com o nome dele. Mais informações no site do grupo.

E se o impacto já havia sido grande quando vi o que o grupo foi capaz de fazer praticamente com recursos próprios, com as próprias mãos e seguem fazendo diariamente para a manutenção do espaço, que não foi incluído na recente lista de 22 teatros registrados como patrimônio imaterial de SP, terminei de enlouquecer quando fui a Suzano conhecer o Teatro Contadores de Mentira, mantido pelo grupo que leva esse nome.

DSC05357

No teatro do Contadores transborda amor e cuidado pelas paredes. Há tanto cuidado com o espaço que a gente se sente em casa. Cleiton Pereira, um dos integrantes do grupo, fez desenhos que representam personagens tanto da trajetória do grupo quanto de um universo teatral mais amplo. Ele e os colegas de grupo pintaram os desenhos. No lado de fora também há desenhos, inclusive feito por amigos. Dom Quixote e seu fiel escudeiro estão na porta de entrada e Vladimir e Estragon estão lá esperando Godot no ponto de ônibus.

DSC05377

Construíram uma escada, um mezanino, oratórios, lustres feitos de garrafões de vinho e até de tambor de máquina de lavar. No Boteco do Jasão a grande atração é o vinho servido numa taça em formato de caveira. Custa R$ 5 e a renda ajuda a manter o espaço, bancado com a garra e a coragem de um grupo que ousa resistir, apesar de condições adversas que sempre imperam no “viver de arte”.

Não posso deixar de mencionar que estava acompanhando a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, que também faz das tripas coração para manter a Terreira da Tribo em Porto Alegre. Tomo esses grupos como exemplo e lição de vida. A força, a coragem e a resistência deles é inspiradora (e fez com que eu me sentisse um pouco bundona em Maringá).

É gente assim que muda a gente e que transforma o mundo. É preciso saber sonhar. É preciso saber voar. E como diz aquele poema do Marighela que virou a canção de encerramento do espetáculo “O amargo santo da purificação”, do Ói Nóis: “É preciso não ter medo”.

Gratidão.


Aqui mais algumas fotos:

POMBAS URBANAS

DSC05234

DSC05237

DSC05265

DSC05269

DSC05604

 

CONTADORES DE MENTIRA

DSC05372

DSC05378

DSC05718

DSC05722

DSC05766

DSC05807

 


Perfil: Rogério Carniato

Hoje quem conta sua história para o blog é o meu amigo Rogério Carniato. Maringaense de uma família de gente bonita, canceriano (como eu!), casado com a nutricionista Caroline Mott, atualmente vive na ponte Maringá – São Paulo – Maringá.

rogério

“Meu primeiro contato com o teatro foi através de uma oficina ministrada pelo diretor teatral Newdemar de Souza, que pessoalmente foi até a escola onde eu estudava e fez o convite para participar do curso vocacional. Na época eu estava na 6º série do ensino fundamental”, conta.

O curso durou de 1996 a 1999 no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga. Neste período ele fez parte da Cia. Fuscapé e da Cia. Klaxon & 2/18, além da Quilombo, todas dirigidas por Newdemar de Souza. Participou das montagens “Maringá Cidadania Para Todos” (1996), “O Terror e a Miséria no Terceiro Reich” (1997) e um infantil cujo nome escapou (nos dois últimos, eu também fazia parte do elenco).

Depois disso, Rogério desenvolveu os seguintes trabalhos:

doente

Foto retirada do programa da peça. Acervo: Rachel Coelho

 

– Em 1999 participou do espetáculo “O Doente Imaginário”, montada pela Cia Trianon, com a direção de Flor Duarte [e que teve a participação da atriz, cantora e regente do coral da UEM Ana Lúcia Colodetti, falecida recentemente].

– Em 2000, com um novo grupo independente de teatro (Cia. Simbiose), montou “O mundo do Faz de Conta”. Atuou como ator e diretor nos espetáculos de sua autoria: “O Velho e a Bruxinha” (2003), “O circo com Kadú e Kajú” (2004) e “Os Quatro Elementos (2004) para o SESC/PR.

Foto retirada do programa da peça. Acervo: Rachel Coelho

Foto retirada do programa da peça. Acervo: Rachel Coelho

– Em 2003 ministrou oficina de iniciação teatral no Teatro Calil Haddad que resultou no espetáculo “Eu, por Augusto dos Anjos”, do qual assinou a direção.

– Em 2005 ministrou oficinas de interpretação em um curso livre na Oficina de Teatro da UEM – Universidade Estadual de Maringá.

– De 2002 a abril de 2006, foi professor de teatro no Colégio Platão, onde desenvolveu um projeto de teatro-educação, montando mais de 30 peças, entre elas “Aurora da Minha Vida” (2005), “Gota D’Água” (2005) e “A Volta do Camaleão Alface” (2005).

– Cursou Letras (2003 a 2006) pela Faculdade de Campos Andrade (UNIANDRADE).

Depois disso, sentiu necessidade de obter novos conhecimentos, trabalhar com pessoas diferentes e crescer como artista. Para tanto, buscou trabalhos em outras cidades e deu certo!

Entre 2005 e 2007 ministrou oficinas de iniciação teatral para o Centro Cultural Teatro Guaíra, por meio do Projeto Paranização, levando arte para cidades como Quatiguá, Siqueira Campos, Atalaia, Iguaraçú, Centenário do Sul, Munhoz de Melo, Santa Fé e Curitiba.

Rogério em campanha publicitária da Unimed.

Rogério em campanha publicitária da Unimed.

Em São Paulo trabalhou como ator em campanhas publicitárias regionais e nacionais, tais como Hipercard, Nextel, Pernambucanas, Fly Tour, Santander, Gillete, entre outros. Também fez participações em novelas do SBT e da TV Bandeirantes e trabalhou na TV Globo no setor de jornalismo cobrindo parte da Região norte da cidade com matérias sobre a vida dos moradores.

Nada disso impediu que ele continuasse atuando em Maringá. Aqui mantém a produtora Carniato & Carniato Produções Artísticas, que vem desenvolvendo o agenciamento de atores para publicidade, produções teatrais e instalações artísticas.

Em 2013 estreou dois espetáculos na cidade: “Entre paredes escuras”, com direção de Sérgio Milagre e contemplado pelo Prêmio Aniceto Matti (em que Rogério integrava o elenco) e “Cidade Menina”, com direção de Marcio Alex Pereira e Rogério na produção, aprovado na Lei Rouanet e patrocinado pela Usina Santa Terezinha.

"Entre paredes escuras" Foto: Beto Schultz

“Entre paredes escuras” Foto: Beto Schultz

Rogério conversa com a plateia após "Cidade Menina". Foto: Leonardo Biazini

Rogério conversa com a plateia após “Cidade Menina”. Foto: Leonardo Biazini

Em 2014 a empresa de Rogério foi responsável por um dos presépios vencedores do concurso da Prefeitura. O dele está instalado na Praça Regente Feijó. Para este ano, foi aprovado em segundo lugar no Prêmio Aniceto Matti com o projeto “O especialista”, montagem teatral de mais um texto de sua autoria. Nesta, ele dividirá o palco com sua irmã, Cris Carniato. A direção ainda não foi definida. Além disso, está em fase de pré-produção de programas pilotos para TV em São Paulo e de novos projetos para teatro.

Seu conselho para estudantes: “Acredito que para qualquer artista, seja profissional, amador ou estudante, produzir, fazer com ou sem dinheiro faz com que o indivíduo adquira experiência e notoriedade para sua carreira, presente e futura”.


Retrospectiva pessoal

É tempo de retrospectivas e planejamentos. Nessa época do ano é comum relembrar, avaliar e planejar nossa vida, nosso próximo ano. No meu caso, é um período de esperança, de expectativas e ansiedade redobrada.

Lembro que meu ano começou com estudos de teatro, em um grupo organizado pela Teatro e Ponto Produções Artísticas. Os estudos duraram algumas semanas de janeiro, mas logo findaram porque outros compromissos foram nos chamando.

Curitiba

Em fevereiro fui a Curitiba por um convite de trabalho no tradicional festival de teatro. Foi uma experiência que durou apenas uma semana, pois logo percebi que não iria me adequar à dinâmica do festival. Entretanto, por mais que tenha sido rápida, foi importante.

"Big Bang Boom". Foto: Rachel Coelho

“Big Bang Boom”, de Michelle Moura, em Curitiba. Foto: Rachel Coelho

Como todos os anos acompanho o festival que começa no fim de março e eu já estava na cidade, acabei ficando em Curitiba. Consegui um trabalho de assistente de produção em um projeto específico na empresa Expressão Criação e Produção, do meu grande amigo Well Guitti. Acompanhei a circulação do espetáculo de dança contemporânea “Big Bang Boom”, da artista Michelle Moura, nas regionais de cultura do Boa Vista e Santa Felicidade.

A ideia era continuar trabalhando com o Well, parceiro em outros projetos, mas a greve da Funarte acabou atrasando o repasse de um projeto que havia em vista e, por isso, acabou não rolando outro trampo. Apenas participei de reuniões e fiz um orçamento de uma circulação que não vingou. Fiz contato com um amigo, Fernando, para elaboração de um projeto para a Lei Rouanet, trabalho que deve rolar em 2015.

Em abril fiz uma visita a Porto Alegre e tive a oportunidade de conhecer a Terreira da Tribo, sede da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, um dos grupos de teatro que mais admiro no Brasil. A partir disso, foi possível ajuda-los em Curitiba por ocasião do edital Cultura 2014, que viabilizou apresentações culturais em cidades-sede dos jogos da Copa do Mundo. Mais uma experiência enriquecedora, que me manteve em Curitiba até o dia 21 de junho. No mesmo dia embarquei de volta a Maringá, chegando na manhã do dia 22, aniversário de minha mãe.

Eu e a galera do Ói Nóis. Foto: Giovana Lago.

Eu e a galera do Ói Nóis Aqui Traveiz em Curitiba (junho de 2014). Foto: Giovana Lago.

Retorno à Maringá

24 de junho era o prazo final para inscrição no edital do Prêmio Aniceto Matti, da Prefeitura Municipal de Maringá. O projeto “Formação e Capacitação de Artistas – Ciclo de oficinas e palestras” havia sido pensado e escrito em Curitiba. Finalizei os detalhes e fiz a inscrição. O edital foi enrolado, o primeiro resultado que saiu não informava que nem todos os aprovados seriam necessariamente premiados. Vários proponentes entraram com recursos e eu acabei perdendo as esperanças. No entanto, quando eu menos esperava, veio a notícia da aprovação (o resultado final saiu apenas no dia 16 de dezembro). A previsão para execução é abril de 2015.

Ao retornar à Maringá, também voltei a me encontrar com Marcia Costa, com quem já havia falado em 2013 sobre a possibilidade de montar um espetáculo solo. Escrevi o projeto para o edital do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz e foi grande a surpresa quando descobri que fomos um dos sete contemplados na região Sul do País para montar um espetáculo. Comemorei muito, pois acredito ter sido uma grande conquista. É a primeira vez que se aprova um projeto neste edital em Maringá. A previsão é estrearmos “Tempos de Cléo” em março de 2015, mas isso vai depender do depósito do recurso, ainda sem previsão.

Encontro "Tempos de Cléo". Foto: Weslley Borges

Equipe “Tempos de Cléo”: eu, Gabi Fregoneis, Marcia Costa e Carolina Santana.

Intermediei o encontro de André Fabrício (que desejava voltar aos palcos como ator) e Marcia Costa, pessoa com quem pretendo trabalhar muitas e muitas vezes. Após alguns encontros deliciosos, elaborei um novo projeto de montagem para o edital da Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros, que ainda não divulgou resultado. Trata-se do espetáculo “Nossa Senhora Noturna”, cuja ideia é muito legal e nos empolga. Agora é torcer!

Florescerro

No comecinho de outubro fui convidada a embarcar em um projeto independente de montagem. Pela primeira vez um texto fruto do Núcleo de Dramaturgia do SESI seria levado ao palco em Maringá. A equipe envolvida me convenceu de que seria uma boa ideia, embora não goste de projetos com prazo apertado, sobretudo no caso de montagens.

Em apenas dois meses foi concebido o espetáculo “Florescerro”, pelas mãos do autor Gustavo Hermsdorff, do diretor Lucas Fiorindo, dos atores André Fabrício e Vinicius Huggy e da cenógrafa Ana Paula Siste. Eu assinei a produção da montagem, que veio à tona antes de “Tempos de Cléo” e, portanto, me iniciou no mundo da produção de montagens!

Foi uma única apresentação, mas a experiência valeu demais! Um rico aprendizado! Ainda não sabemos como será 2015, mas o desejo dos meninos é voltar a cena.

E mais…

E no meio disso tudo ainda mantive o blog e a coluna no jornal O Duque (onde também dei algumas contribuições como repórter). Participei do GT de Cultura, que ao longo do ano fez reuniões semanais e encampou a criação da primeira cooperativa cultural do Paraná (em andamento). Ainda este ano (novembro) consegui abrir um CNPJ, que por enquanto ainda é MEI. Em setembro iniciei uma pesquisa sobre a história do teatro em Maringá, mas não consegui fazer o suficiente. Faltou tempo. Em outubro iniciei um trabalho no Instituto João Bombeirinho, do qual acabei desistindo por não querer fugir do foco profissional. A necessidade de dinheiro está o tempo todo nos tentando a mudar de rumo. Fiz revisão ortográfica do livro “A história de Naitá”, do Danilo Furlan (já lançado). Trabalhei durante uma semana na 1ª Festa Literária de Maringá (FLIM). Isso sem contar com os projetos que não foram aprovados, mas demandaram o tempo de sua elaboração e coisa e tal.

SP

Para encerrar o ano, fiz uma viagem marcante: fui a SP acompanhar o Ói Nóis Aqui Traveiz na Mostra Conexões para uma arte pública, que promoveu um intercâmbio entre o grupo gaúcho e o carioca Tá na Rua, o mineiro Casa do Beco e o paulistano Pombas Urbanas. Além destes, ainda tive o privilégio de conhecer o grupo Contadores de Mentira, de Suzano.

Se eu pudesse resumir a experiência (pois para descrevê-la não consigo encontrar palavras) eu diria que me encorajou a seguir adiante, a lutar, a batalhar. Esses grupos são resistentes. Estando com eles é possível perceber a força, a coragem e o amor pelo teatro. A importância que eles tem em suas comunidades e o respeito que conquistaram nela. Como a arte pode abalar estruturas, pode transformar. Como ainda nos falta em Maringá mas, sim, É POSSÍVEL. Eles são um belo exemplo disso: de que é possível. E pode ser lindo, pode ser doce, pode ser forte. Só não vai ser fácil.

Expectativas

A previsão é começar 2015 trabalhando.

Como pretendemos estrear “Tempos de Cléo” no início de março, voltaremos a nos reunir no início de janeiro. Em seguida, durante o mês de junho, pretendo executar o projeto aprovado no Aniceto Matti, que é de oficinas e deve durar praticamente o mês todo. Deste mesmo edital estou na equipe do projeto do Marcio Alex Pereira, uma pesquisa sobre a Vila Operária que pretende reunir material que posteriormente irá subsidiar a criação de um espetáculo sobre o bairro. Não sei do cronograma, mas certamente serão meses de trabalho.

Farei a assessoria de imprensa do Festival de Teatro do Estudante, projeto do grupo Forféu (do distrito de Iguatemi), que resgata o projeto da Secretaria de Cultura em que tanto trabalhei nas três edições realizadas. O festival deve ocorrer em setembro, mas minha função, segundo Alan Gaitarosso me informou, começa em março.

O edital do Viapar Cultural está aberto até fevereiro e para ele mandarei alguns projetos com previsão de realização no segundo semestre. Torço para que um deles passe! Temos também o edital do PROFICE e a peça “Florescerro”, que queremos circular e apresentar. E é isso o que está previsto, o resto é novidade.

Que seja um ano tão ou mais produtivo que este.


Palco Giratório e Ciranda das Artes

Na última sexta-feira pude conferir o primeiro espetáculo do ano em Maringá vindo pelo Palco Giratório, do SESC. Foi “In Conserto”, do Teatro de Anônimo (Rio de Janeiro). Me interesso muito em entender melhor o funcionamento deste projeto, que considero dos mais importantes do País. Em breve devo publicar mais informações a respeito.

Espetáculo "In Conserto". Foto: Renato Domingos.

Espetáculo “In Conserto”. Foto: Renato Domingos.

Sobre o espetáculo: é sempre uma felicidade ver o teatro lotado como estava a Oficina de Teatro da UEM. O público maringaense é de dar orgulho, principalmente quando temos a oportunidade de ver espetáculos em outras cidades, inclusive grandes centros como Curitiba e São Paulo. Não perdemos em nada. Percebo que há um grande interesse por espetáculos de palhaço, de circo e infantis. Neste caso, pela reação entusiasmada da plateia, acredito que o Teatro de Anônimo não decepcionou. Pelo contrário: encantou. Fico muito feliz pela oportunidade de prestigiar esse grupo incrível em minha cidade.  Eu já os conhecia e depois desse final de semana minha admiração só aumentou.


Na sexta, as meninas do SESC Maringá (Bárbara e Elenice), entregaram a programação do projeto Ciranda das Artes para o resto do ano. Vai bem ao encontro desse interesse da cidade (e de parte da classe artística local) pela arte do palhaço. Compartilho:

Dia 22/10 – Espetáculo “Essencial“, do grupo Obragem de Teatro (Curitiba). Às 20h30 no SESC.

Dia 23/10 – oficina “As camadas de presença do ator”, das 9h às 12h também no SESC.

 

Dia 31/10 – espetáculo “O menino mais rico do mundo” (SP), às 15h no SESC

Oficina “Liberdade e potência do ator – vivência intensiva com Danilo Dal Farra”. Das 8h30 às 11h30 no SESC

 

Dia 7/11 – espetáculo “O melhor show do mundo, na minha opinião“, do palhaço Ritalino (Londrina), às 20h30 na Oficina de Teatro da UEM

Oficina “Palhaço, o poeta da cena” das 14h às 18h no SESC

 

Dia 14/11 – espetáculo “Siriema e Pelúcia em O carteiro” (Entretantas Produções – Curitiba) às 20h30 na Oficina de Teatro da UEM

Oficina “Introdução ao jogo do palhaço”, das 13h às 16h no SESC

 

Dia 21/11 – espetáculo “Sonho de uma noite de verão“, da Cia do Abração (Curitiba) às 20h30 no SESC

Oficina “A ludicidade no teatro – para e com crianças”, das 14h às 16h no SESC

 

Dia 25/11 – espetáculo “Concerto em ri maior“, da Cia dos Palhaços (Curitiba) às 20h30 no SESC

Oficina de palhaço: “Em busca da criança perdida”, das 8h às 12h no SESC

 

Dia 28/11 – espetáculo “Spirulina em Spathódea” (NaCompanhiadosanjos – SP) às 20h30 no SESC

Oficina “Corpo, estado e criação” das 9h30 às 12h30.

 

* Em breve postarei mais informações sobre cada espetáculo, embora isso já tenha sido publicado aqui por ocasião da divulgação do resultado do edital. Os dados acima, conforme mencionado, foram repassados pelo SESC e podem sofrer alterações. Estou estranhando tantos espetáculos no SESC, pois a instituição não dispõe de local equipado para receber espetáculos de teatro, mas sei que fazer teatro dentro dos espaços teatrais da cidade está cada vez mais difícil em Maringá.


É hoje!

zé renato

Mais uma conquista da classe artística do segmento de teatro em São Paulo. Graças à mobilização, coordenada pela Cooperativa Paulista de Teatro, um prêmio foi criado para contemplar núcleos artísticos, pequenos e médios produtores independentes, visando a montagem, temporada ou circulação de espetáculos. Hoje é o lançamento do prêmio.


Seminário Teatro e Sociedade, em SP

Foi divulgada hoje a programação do Seminário Teatro e Sociedade, promovido pela Companhia do Latão entre os dias 9 e 11 de setembro na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo. Maringá estará representada pelo Grupo de Crítica Literária Materialista da UEM, coordenado pelo queridíssimo professor Alexandre Villibor Flory. Camila Peruchi, Thaís Tolentino e Karyna de Mello vão apresentar sua comunicação no dia 10, das 14h às 15h30, falando sobre o grupo e seus estudos sobre arte e sociedade. Confira a programação na imagem abaixo. 

seminário


O teatro e a especulação imobiliária

Grupo de Trabalho da cultura se reúne com a secretária de cultura de Maringá. Foto: André Fabrício.

Grupo de Trabalho se reúne com a secretária de cultura de Mgá. Foto: André Fabrício.

No ano passado artistas e produtores culturais de Maringá deram início a uma luta pela revitalização do Cine Teatro Plaza, equipamento cultural localizado na Praça Raposo Tavares, próximo ao terminal rodoviário, que está inativo e interditado há pelo menos dez anos. Tal ação vem ao encontro de um movimento que, infelizmente, é nacional. Outros espaços culturais estão sofrendo os efeitos da especulação imobiliária, do desrespeito e do desinteresse pelas ações culturais, por mais importantes que elas possam vir a ser.

Em São Paulo o Centro Internacional de Teatro Ecum (CIT-Ecum), apesar de desenvolver um trabalho relevante que ganhou enorme destaque em apenas um ano, fechou as portas no mês passado. O proprietário do imóvel pediu a desocupação do prédio para transformá-lo em um empreendimento considerado mais lucrativo. O CIT Ecum já é um espaço tradicional na cidade, visto que seus diretores e curadores são nomes muito atuantes na cena teatral e conseguiram oferecer uma programação de qualidade, somada a cursos, oficinas e debates. Sua criação foi resultado de um trabalho que já vinha sendo realizado desde 1998 por meio do Encontro Mundial das Artes Cênicas. A Cooperativa Paulista de Teatro entrou com pedidos de tombamento do prédio e de registro como patrimônio imaterial, uma vez que lá funcionou a primeira fábrica de aparelhos de televisão na cidade de São Paulo, considerando também a importância cultural do teatro. O pedido foi acompanhado de um abaixo-assinado que circulou na internet e teve a adesão de mais de 2.700 assinaturas.

Também em São Paulo o Teatro Brincante, criado pelo músico, dançarino, coreógrafo e educador Antonio Nóbrega está ameaçado. Da mesma forma que ocorreu com o CIT Ecum e com tantos outros espaços alternativos da capital paulista, uma construtora comprou o terreno localizado na Vila Madalena e pretende demolir o prédio. Para eles pouco importa o trabalho que Nóbrega vem desenvolvendo há mais de 40 anos pela cultura popular brasileira, pelo teatro, dança, contação de histórias, pela educação e por tantas crianças, jovens e adultos que passam pelo Instituto Brincante. Na rede também foi criado o movimento #ficabrincante, resta saber se terá resultado.

antro_pascoal

antro_dudude

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pascoal da Conceição e Dudude Herrmann na campanha.

Conectada a todos estes acontecimentos em rede nacional, a revista de teatro Antro Positivo criou a campanha #Deixemoespaçodoteatroempaz, simbolizada por fotografias em que uma fita amarela e preta daquelas usadas em áreas interditadas é atravessada pela imagem de artistas, produtores, críticos e jornalistas especializados. A campanha surgiu em São Paulo e ganhou eco no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, onde espaços culturais também estão sendo ameaçados pela especulação imobiliária.

Enquanto isso em Maringá, um Grupo de Trabalho criado numa audiência pública vem trabalhando como pode pela cultura local e, neste assunto, vem realizando uma campanha chamada O Cine Teatro Plaza é nosso. A primeira ação foi criar uma fanpage com este mesmo nome, que já tem mais de 1.800 curtidas (e se você ainda não curtiu, curta!). No início de março foi realizado o Hip Hop no Plaza com a participação de diversos artistas. O objetivo era chamar a atenção da população para a causa e por isso outro evento está sendo organizado para ocorrer em breve.

Mas por que é importante lutar por este espaço?

Cine Teatro Plaza, em Maringá.

Cine Teatro Plaza, em Maringá.

O prédio começou a ser construído em 1968 e foi inaugurado no ano seguinte. Tendo em vista que a fundação oficial de nossa cidade é de 1947, trata-se de um dos primeiros equipamentos culturais que ainda está de pé. Como se isso não bastasse, é um dos últimos cinemas de rua que ainda existem no Estado do Paraná. E mais: é um dos nossos maiores espaços culturais, ultrapassando os 600 lugares (só perde em capacidade para o Teatro Marista e para o Teatro Calil Haddad); está localizado na região central e, portanto, em local de fácil acesso para o grande público. Além disso, quem precisa solicitar agendamento de um teatro sabe o quão difícil está encontrar uma data disponível, competindo com eventos de outra natureza, tais como formaturas, congressos, seminários e apresentações de escolas. Precisamos urgentemente de mais espaços culturais!!! Precisamos de mais investimentos, pois é certo que, para ser reaberto, o Plaza precisa ser reformado e equipado. Precisamos cuidar da preservação de nossa história e memória. Precisamos, sobretudo, que a arte e a cultura sejam vistas como prioridades.

Este texto foi publicado em versão editada no jornal O Duque, na minha estreia como colunista. Para acessá-lo no site do jornal, clique aqui


Perfil: Marco Antonio Garbellini

“Em 1991 assisti no Teatro da UEM a peça “A parada do Velho Novo”, baseada nos textos “O Mendigo e o Cachorro Morto”, “Os três palhaços” e “O Senhor Puntila e Seu Criado Matti”, de Bertold Brecht. Fiquei maravilhado com o que vi. De alguma maneira, algo muito forte se alterou dentro de mim. Acho que fui ver a peça umas três vezes ou mais. Tudo aquilo me encantou e não sei o porquê, mas fui atingido em cheio por aquele lindo trabalho. Mesmo passados tantos anos, me lembro até hoje das cenas, do texto e das imagens que saltavam diante dos meus olhos. Comecei a ter o desejo de fazer uma oficina, um curso, algo que pudesse me aproximar daquele universo.  No início, não sabia ao certo o que queria, então passei por algumas oficinas que eram oferecidas pela Secretaria de Cultura e, mais tarde, em 1993, ingressei no Curso de Iniciação Teatral no SESC-MGÁ – que era coordenado por Marco Granado.

Nossos encontros eram aos sábados, das 14h às 18h, na unidade do SESC. Aos poucos o Granado ia marcando ensaios, encontros para leitura e debates sobre alguns textos, que aconteciam em sua casa mesmo, durante a semana. Os encontros que aconteciam uma vez por semana foram aumentando de acordo com a necessidade daquilo que estávamos trabalhando. As pessoas que participavam desse curso eram estudantes, donas de casa ou gente que trabalhava no comércio, como eu. Então não existia uma “unidade artística” e nem era esse o propósito daquelas pessoas. Para nós, naquele momento, era muito mais importante o desejo de realizar algo, de participar de um projeto, de fazer parte de um grupo, do que ser ator ou atriz profissional. Mesmo assim, a vontade de formar um grupo e de formar pessoas – no sentido mais amplo da palavra – era muito forte no Granado e ele sempre nos recebia de maneira muito generosa, com sua biblioteca, videoteca e longas conversas sobre teatro, trabalho de ator, grupos e direção.

Confesso que, nesses primeiros anos, o que mais vinha em minha mente era desistir, mas por outro lado, em alguns momentos em cena, me vinha uma sensação e um sentido de integração tão forte que, mesmo sendo raro, era maior, muito maior do que esse desconforto inicial.

Um ano após o início das oficinas, entrou um cara muito engajado no grupo, que era professor e também uma espécie de “faz tudo” no coletivo, dentro e fora de cena. Esse cara é o Adauto da Silva, que na época deu uma guinada na nossa maneira de pensar projetos. Com a sua entrada, passamos a visitar as escolas das redes estaduais de Maringá e região, apresentando nossos projetos nos espaços escolares, ou então convidando os alunos a irem para o Teatro Barracão. Assim trabalhamos durante três anos.

Quando me perguntam sobre o público de Maringá, sempre falo que é uma audiência muito generosa e acolhedora. Naquele período, nós nem éramos profissionais regularizados, com exceção do Granado, nosso diretor. Fazíamos apenas um curso de iniciação e, apesar disso, tínhamos um público que ia ao teatro ver nossos projetos. Até hoje sou grato ao Granado, às pessoas que nos prestigiavam e a todos com quem trabalhei em Maringá.

Realizamos nesse período “O terrível Capitão do Mato”, de Martins Penna, “O médico à força”, de Molière (1993), “À margem da vida”, de Tennessee Williams (1994), “O auto da barca do inferno” e “A farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente (1995), assim como “A décima oitava mulher” (1996), de criação Coletiva.

Imagem

“O auto da barca do inferno”. Foto: acervo pessoal.

No final de 1996 decidi vir para São Paulo e ingressar num curso de formação técnica de atores. Assim, em 1997, fiz as provas e os testes práticos para ingressar no INDAC – Instituto de Arte e Ciência, sistematizado por Antunes Filho (diretor do Grupo Macunaíma e CPT).

Em 1999, em meu penúltimo ano como aluno do Instituto, realizei minha primeira montagem em São Paulo fora da escola. Chamava “O Poder no Poder”, de Hercules Maia Kotsifas, dramaturgo maringaense. Ainda no mesmo ano, levamos esse projeto para Maringá, tendo um público muito receptivo.

Em 2000, quando finalizei o curso, dei início ao meu primeiro projeto solo: “Anjo Torto”, baseado e inspirado em poemas de Carlos Drummond de Andrade. Estreei esse espetáculo em 2001, realizando-o até 2005 em praças, teatros alternativos de SP, no Colégio Gastão Vidigal de Maringá, em Sarandi e Arapongas.

Imagem

“Anjo torto”. Foto: Marcelo Kan.

A partir desse projeto e da pesquisa que iniciei como intérprete, comecei a me focar cada vez mais no trabalho do ator e nos procedimentos executados dentro e fora da sala de ensaio. Comecei a ser convidado para dar aulas de preparação de ator, cursos livres de interpretação em oficinas de teatro, diretorias de ensino.  Além disso, fui convidado a trabalhar como ator em inúmeros projetos, tais como: “O cheiro das amêndoas amargas”, baseado nos livros “O amor nos tempos do cólera” de Gabriel García Márquez e “Senhorita Danzer”, de Marius Von Mayenburg.

Em 2006 retomei a pesquisa que havia iniciado com “Anjo Torto”, em parceria com o ator Leandro Siqueira. Começamos a pesquisar toda a obra do João Guimarães Rosa, estudando a questão do trabalho escravo no Brasil e alguns aspectos sobre a miséria aliada à ignorância. Assim construímos o nosso projeto “Querência”. Realizamos uma leitura dramatizada no Galpão da Cia Livre em 2007 e apresentamos a peça na Oficina de Atores e Mostra Mundo Mix em 2009.

Imagem

“Querência”. Foto: Raquel Anastasia.

Em 2008 o SESC Pompéia me convidou para realizar uma performance a partir da obra “O alienista”, de Machado de Assis, na exposição Rios de Machado. Nesse momento, a dramaturgia ficou a cargo do maringaense Hercules Maia Kotsifas.

Imagem

“O alienista”. Foto: Luan Chaves.

Esses três projetos – “Anjo Torto” (2000), “Querência” (2006) e “O Alienista” (2008) – foram o gatilho que me levou a fundar com outros atores o Grupo de Estudo Permanente do Teatro, que se dedica ao estudo da transposição da linguagem literária para o discurso cênico.

Imagem

Divulgação de montagem inspirada na obra de Guimarães Rosa.

Através da pesquisa minuciosa da gestualidade corporal, partituras vocais e estudos dramatúrgicos, o grupo constrói a sua identidade estética em cada projeto que assina. Cada integrante é co-autor de todo o processo vivido e propositor dos procedimentos abordados durante a pesquisa. Realizamos por meio desse projeto junto ao SESC-SP e FDE um trabalho de formação de plateia, propondo um bate-papo antes e após as apresentações. O nome de todos os integrantes, nossa pesquisa e os trabalhos que realizamos ao longo desses anos estão no site www.gepdoteatro.com

Imagem

“Poemas 3×4”. Foto: Jackson Oliveira.

Imagem

“Iracema”. Foto: Silvia Russo.

Sempre que posso retorno com projetos para Maringá. Nos últimos anos não tive a oportunidade de levar, mas acredito que é mais uma questão de produção. Estive com outros projetos que dirigi no Colégio Marista, como “Cartas ao professor” e “Cardápio Rubem Alves”, da Cia. Teatral Matéria Vertente, com Silvionê Chaves, mas eram apresentações fechadas para os educadores.

Vejo que muita coisa mudou desde que saí da cidade. Cada ano que passa surgem grupos novos, novas oficinas e cursos de interpretação, como o próprio curso de Artes Cênicas da UEM. Acredito que todo esse movimento, a formação de novos profissionais, os grupos, a plateia e o meio teatral só tem a ganhar e o empenho desses profissionais é que farão da cidade uma referência no meio cultural. “


Perfil: Thais Pimpão

Quem já esbarrou com a sexta edição do jornal O Duque deve ter lido um texto meu sobre a atriz Thais Pimpão.

Mandei a ela um e-mail com perguntas na intenção de construir um perfil para publicar aqui. No meio do caminho, Thais ganhou dois prêmios Shell com o mais recente espetáculo da Cia do Tijolo e o jornal O Duque me convidou a escrever sobre isso para a versão impressa. Topei.

As respostas dela foram tão bacanas que, após a publicação da matéria impressa (com limitação de caracteres), para não deixar de fora tantas informações interessantes e manter o plano inicial, resolvi publicar aqui da mesma forma como ela havia escrito, fazendo apenas uma pequena edição e utilizando as fotos escolhidas por ela.

Pretendo fazer a mesma coisa com outros atores maringaenses (ou, como é o caso dela, que tenham forte vínculo afetivo com Maringá) mas que residem em outras cidades e seguem na vida artística.

Parênteses: como conheci Thais Pimpão

Fazia algum tempo que eu conhecia pessoas que, ao perceberem meu interesse pelo teatro, me perguntavam se eu conhecia a Thais Pimpão. Eu a conhecia apenas de nome, pois não cheguei a assistir aos espetáculos que ela fez em Maringá. Só fui conhecê-la no Rio de Janeiro, numa apresentação de “Concerto de Ispinho e Fulô”, na Caixa Cultural. Fui acompanhada de dois amigos, um deles interagiu com ela no espetáculo e, já alertado por mim de que ela seria de nossa cidade, comentou que era de Maringá. Ela ficou bem empolgada. Ao final da peça, eu e meu amigo fomos falar com ela, que nos recebeu muito bem. A partir daí, nos adicionamos no Facebook e mantivemos contato.

Segue abaixo um pouquinho da história de Thais Pimpão.

Imagem

Thais Pimpão em Maringá, no palco do TUM, onde tudo começou. Foto: Alécio Cezar

“Nasci em 1977 em Arapongas. Depois morei sete anos em Londrina e fomos para Maringá em 1985. Cheguei à Cidade Canção com oito anos de idade e fui estudar no CAP, escola pública que fica dentro da UEM. Na minha época o CAP era uma escola sem muros nem grades.

Foi uma infância linda. Morávamos ao lado da Universidade. A lembrança mais forte que tenho daqueles tempos é a de que na hora do recreio eu podia transitar livremente como os universitários por todos os departamentos e espaços da UEM. Às vezes eu conseguia ir para casa lanchar e depois voltava para aula! Liberdade de ir e vir que nunca mais tive em nenhuma escola! (rs).

Minha mãe trabalhava na UEM, no Departamento de Ciências Sociais, e por isso eu conhecia todo mundo: professores, alunos, porteiros, faxineiros e guardas. Essa era a minha “grande família”.

Em 1990, se não me engano, foi o ano da greve de seis meses. Para não perder o ano escolar fui para o Colégio Platão.  Lá fiz grandes amigos, alguns presentes em minha vida até hoje, mas não me adaptei muito bem às normas e regras do colégio, com muros, uniforme e crachá. Fui reprovada.

Voltei para a escola pública. Não me livrei dos muros, mas sempre os pulava (rs). Estudei no Gastão Vidigal, no Vital Brasil e me formei no Magistério no ano de 1997 no Instituto de Educação Estadual.

Em 1998 fiz as malas e fui-me embora pra São Paulo.”

Como teve início a sua carreira artística?

“Essa é uma longa e divertida história. Quando morávamos em Londrina, minha mãe trabalhava o dia inteiro em uma fábrica e por isso contratou a Marina para cuidar de mim e da minha irmã.

A Marina era uma mulher linda e divertida que tinha fugido da casa dos pais, quando ainda era adolescente, para viver com um artista de circo por quem ela se apaixonou loucamente. Depois de anos no circo e na estrada, ela fugiu do circo e foi morar com a gente.(rs). Lembro-me de ter parado de chupar chupeta porque ela fez uma mágica e a chupeta desapareceu! (rs). Aprendi com ela a virar cambalhota, fazer mágicas e palhaçadas. A Marina fazia o melhor e mais gostoso pão caseiro do mundo!

Depois dela eu tive como cuidadora a Tânia, que era atriz do Grupo Proteu e que contava-me histórias como ninguém. Minha mãe estudava na UEL e nossa casa era sempre frequentada por amigos, artistas e intelectuais.

Contam-me a história de que certa vez, em uma das apresentações do Grupo Proteu, num espetáculo de rua que contava a história de Tiradentes, na cena em que o personagem principal morre, o ator – que era muito amigo da minha mãe – deitou no chão do calçadão e “morreu”. Eu, com quatro anos de idade, íntima do ator, corri para o meio da cena e deitei ao lado dele. E lá fiquei “morta”, representando junto com ele por mais de 10 minutos de peça. (Rs). Foi assim que tudo começou…

Quando mudamos para Maringá conheci logo o meu querido amigo, “tio” e mestre Eduardo Montagnari, que depois foi também meu diretor. Ele também frequentava a nossa casa e, principalmente, a minha imaginação com as suas músicas, histórias e poesias.

Imagem

Thais (primeira à direita) em sua estreia nos palcos. “Relações” (1994).

Em 1993, aos 16 anos de idade, fiz meu primeiro curso de Interpretação no Teatro Universitário da UEM com o professor, amigo e diretor Pedro Ochoa. Foi ali, no palco do TUM, que definitivamente me apaixonei pelo fazer teatral. Foi com o Pedro que eu aprendi a dar os primeiros passos, a respeitar o espaço cênico e a viver à serviço desta arte.

A minha primeira atuação foi no ano seguinte, em 1994, no espetáculo “Relações”, que reunia textos curtos de Luís Fernando Veríssimo, com direção de Pedro Ochoa. Neste mesmo ano fui assistente de direção do Pedro na montagem do espetáculo “Maringá Ontem-hoje” no Lar Escola da Criança e do Adolescente e professora no projeto “Teatro para meninos e meninas de rua” na UEM.

Imagem

Thais em “A obra de arte” (1995), de Eduardo Montagnari.

Em 1995 me tornei bolsista do Departamento de Extensão e Cultura e atriz “efetiva” do TUM. Atuei no espetáculo teatral “A Obra de Arte” de Ánton Tchecov, adaptado por Héctor Quinteiro com direção de Eduardo Montagnari . Também em 95 atuei no espetáculo de rua “A farsa do mancebo que casou com mulher geniosa”, de Alejandro Casona, com direção de Pedro Ochoa.

No mesmo ano o Luthero de Almeida, amigo, ator, diretor, dramaturgo e “pai”, como eu costumava chama-lo, me convidou para fazer o espetáculo “O colecionador de histórias”.

Imagem

Thais e Luthero de Almeida em “O colecionador de histórias” (1997).

Foram 19 meses de pesquisa e experimentação. Juntos – eu, ele e o Pedro – construímos a dramaturgia da peça e estreamos em 1996. Eu era uma menina e aprendi muito com esse trabalho, por isso considero este um dos espetáculos mais importantes da minha vida. Viajamos muito por todo interior do Paraná, participamos do Festival de Teatro de João Pessoa e do 1° Festival de Teatro Infantil de Blumenau. Foi aí que a minha vida mudou.

No ano de 1997 em Blumenau (SC), Vladimir Capella – que é diretor de teatro e dramaturgo aqui da cidade de São Paulo – assistiu “O colecionador de histórias”, conversou comigo, elogiou o meu trabalho e pediu meu telefone. Em 1998 ele me ligou e me convidou para fazer parte do elenco de “Clarão nas estrelas”, produzido e apresentado no Teatro Popular do SESI, na Av. Paulista 1313.

Foi tudo muito rápido. Eu que nunca tinha vindo para São Paulo nem a passeio, cheguei num dia e no outro já estava ensaiando com um elenco maravilhoso de atores profissionais e generosos, pessoas que eu admiro muito e que fazem parte da minha história: Selma Egrei, Cacá Amaral, Talita de Castro, Lúcia Romano, Kadu Torres, Marcelo Médici, entre outros.

Na época o SESI ainda fazia contratações na Carteira de Trabalho e esse foi o meu primeiro carimbo. (rs).

Imagem

“Clarão nas estrelas” (1998), direção de Vladimir Capella – 1º espetáculo em SP. Foto: João Caldas

O espetáculo era lindo, com cenário e figurino de JC Serroni, luz de Davi de Brito, músicas de Dyonísio Moreno, texto e direção do Vladimir Capella. Ficamos um ano em cartaz, de quinta a domingo, com os ingressos sempre esgotados e filas enormes na frente do SESI. Tínhamos até fã-clube!

Ainda em 1998 eu participei do processo seletivo para cursar a EAD (Escola de Arte Dramática da USP) e passei! Entre os 700 candidatos, eu fui uma das 20 pessoas escolhidas para fazer parte da Turma 51 da Escola.

Comecei o curso em 1999 e me formei em 2002. Foram anos difíceis sim, mas com toda certeza determinantes em minha carreira e em minha formação. Lá eu conheci muita gente da classe artística e tive professores incríveis como: Celso Frateschi, Dan Stulbach, Iacov Hillel, Roberto Lage, Beth Dorgan, Cristiane Paoli Quito, Antonio Januzelli, Monica Montenegro, entre outros tantos mestres e amigos, aos quais sou extremamente grata.

Outras pessoas da minha turma também já faziam, e continuam fazendo, teatro de grupo na cidade de São Paulo, como por exemplo: Luíz Fernando Marques e o Paulo Celestino da Cia XIX, José Roberto Jardim da Cia Os Fofos Encenam e a minha grande amiga e parceira Christiane Galvan da Cia Vagalum Tum Tum, da qual eu participei do primeiro espetáculo, que levava o mesmo nome da Companhia.

“Vagalum Tum Tum” era um espetáculo de clown com roteiro de Angelo Brandini e direção Beth Dorgan.  Estreamos no Sesc Ipiranga e viajamos para muitas outras unidades do Sesc no interior do Estado de São Paulo no ano de 2002.

Em 2003 entrei para o Grupo VentoForte para substituir uma atriz no espetáculo “Victor Hugo, onde você está?” , texto e direção de Ilo Krugli. Fizemos temporadas em São Paulo e no Rio de janeiro.

Imagem

Thais em “Bodas de sangue”, do VentoForte. Pela 1ª vez o gostinho do Prêmio Shell. Foto: Fábio Viana.

No fim da temporada o Ilo me convidou para participar da montagem do espetáculo novo do grupo, “Bodas de Sangue” de Federico Garcia Lorca. A peça ficou linda. Estreamos no Sesc Belenzinho e depois viajamos muito para vários lugares do Brasil. Foi a primeira vez que ganhei o prêmio Shell!! O “Bodas” levou em 2005 Melhor Música e melhor Cenário.

No elenco tínhamos Marcello Airoldi, Lizete Negreiros, Dinho Lima Flor, Lilian de Lima, Rodrigo Mercadante, William Guedes, Aloisio de Oliveira, praticamente o mesmo coletivo de atores e músicos que hoje fazem parte da Cia do Tijolo.

No ano de 2006 o espetáculo foi convidado a participar do Fetival WMTF – World Music Theatre Festival / Holanda e fomos, representando o Brasil, para 10 cidades da Holanda: Amsterdam, Breda, Rotterdam, Maastricht, Zwolle, Den Bosch, The Hague, Groningen, Leiden e Drachten.  Apresentamos também na Itália em Udine e na Bélgica em Antuérpia.

Em 2007 remontamos “História de Lenços e Ventos”, um dos textos mais importantes do Ilo Krugli e que é referência para muitos atores e grupos que se aventuram a fazer e pensar teatro para crianças neste país.

Imagem

“Histórias de lenços e ventos” (2007), do VentoForte. Foto: Fábio Viana.

Em 2006 eu resolvi me afastar do Grupo VentoForte e fui em busca de novas experiências. Participei do longa metragem “O Signo da Cidade”, com direção de Carlos Riccelli e roteiro de Bruna Lombardi, entre outras pequenas participações em curtas e comerciais de TV. Em 2007 comecei a fazer teatro exclusivamente para os funcionários e familiares do Banco HSBC e com esse trabalho conheci praticamente o país inteiro.

No fim de 2007 eu fui morar alguns meses na Holanda e quando voltei, em 2008, reencontrei meus parceiros e amigos e entrei para a até então recém-formada Cia do Tijolo. Em 2009 estreamos “Concerto de Ispinho e Fulô”, espetáculo musical sobre a vida e obra do poeta Patativa do Assaré, no Sesc Paulista. Foi a primeira peça da companhia.

Imagem

“Concerto de Ispinho e Fulô” (2009), da Cia do Tijolo. Foto: Alécio Cezar.

Ganhamos o Prêmio Shell 2010 de Melhor Música e o Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro 2010 de Melhor Projeto Sonoro.

Em 2011 gravamos CD de música e viajamos para mais de 40 cidades do Brasil através do projeto do Sesc chamado Palco Giratório. No mesmo ano fomos com o “Concerto” para a Dinamarca participar do ASSITEJ – 17° world congress and performing arts Festival for young audiences. Apresentamos durante duas semanas em Copenhagen.

Em 2010 fui convidada pela diretora Débora Dubois para atuar no espetáculo infanto-juvenil “Quem tem medo de Curupira?”, com texto, músicas e direção musical de Zeca Baleiro. Ficamos oito meses em cartaz no SESI da Paulista. Foi maravilhoso voltar a trabalhar naquele teatro depois de tanto tempo e reencontrar todo o pessoal da técnica, contra-regras e camareiras. A peça foi um sucesso de púbico e ganhamos o Prêmio FEMSA 2010 – Melhor música original; Iluminação; Ator coadjuvante e Melhor Espetáculo Jovem. Eu recebi a indicação de Melhor Atriz Coadjuvante, mas não ganhei.

Imagem

“Quem tem medo de Curupira?”, de Débora Dubois. Foto: João Caldas.

Em 2012 fizemos 85 apresentações nas 40 unidades dos CEUs (Centro de Educação Unificada) da Prefeitura de São Paulo.

Trabalhar e conhecer o músico e artista Zeca Baleiro foi um enorme prazer e um privilégio. O trabalho resultou em um CD com as músicas do espetáculo, gravado e lançado pela Saravá Discos.

No fim de 2012 fizemos juntos a leitura de “Uma paixão segundo Nelson”, que se passa num ambiente de rádio, cheio de histórias e músicas compostas originalmente para a peça. Vocês podem ter o gostinho de saber um pouco mais clicando aqui.

Com a Cia do Tijolo, em 2012, fomos contemplados pela Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo e começamos a ensaiar a nossa “Cantata para um bastidor de utopias”. Foi um ano de pesquisa e ensaio intenso. Estreamos em 2013 no Sesc Pompéia.

Imagem

Cia do Tijolo em “Cantata para um bastidor de utopias” (2013). Foto: Alécio Cezar.

A peça foi indicada ao prêmio Governador do Estado de São Paulo – melhor espetáculo – 2013. Vencedora do Prêmio Shell – 2013 – melhor Música e Cenário. Está ainda indicada ao Prêmio Cooperativa Paulista Teatro 2013 nas categorias Elenco; Espetáculo em espaço não convencional; Projeto visual e Projeto sonoro.

Em 2013 fui convidada pelo diretor, músico e dramaturgo Gustavo Kurlat para fazer “Uma trilha para a sua história”, que teve patrocínio da Matel e estreia no SESC Pompéia. Sou a atriz narradora da peça que conta os sonhos de uma menina. Sempre digo que o Gustavo escreveu esse texto pra mim, e eu sou MUITO grata a ele. E sou feliz por fazer parte dessa história. Trabalho sensível, composto por um elenco talentosíssimo de dez bailarinos que dançam e encantam crianças, jovens e adultos.

"Uma trilha para sua história". Foto: Alécio Cezar.

“Uma trilha para sua história”. Foto: Alécio Cezar.

Com este espetáculo ganhamos o Prêmio APCA – 2013 – Melhor Espetáculo de Dança para Crianças e estamos concorrendo em seis categorias ao Prêmio FEMSA – 2013 – Thais Pimpão Melhor Atriz; Autor de Texto Original; Diretor; Música Original; Produção e Melhor Espetáculo Infantil.”

Sobre voltar a Maringá…

“Só voltei para Maringá com o “Concerto”. Quis muito fazer “Quem tem medo de Curupira?” aí, mas acabou não dando certo.

Sonho em voltar sempre pra Maringá com todos os trabalhos que faço. Acho importante para a cidade e para as pessoas que estão fazendo teatro por aí. O teatro é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros… (rs). ”

Vínculo com a cidade…

“Meu único vínculo hoje com Maringá é o coração. Por que “A cabeça pensa onde os pés pisam” (Frei Betto).

Hoje em dia moro há mais tempo aqui em São Paulo do que em qualquer outra cidade do Paraná. Não tenho mais familiares morando em Maringá, tenho apenas alguns poucos, mas eternos amigos, e parceiros do palco e da vida, dos quais faço questão sempre de lembrar e me comunicar.”

Conselho aos estudantes de Artes Cênicas …

“Acho que para quem está começando é necessário manter-se sempre de olhos e ouvidos bem atentos. Teatro é também uma arte que exige observação cuidadosa e não preconceituosa sobre todos os aspectos da vida.

Para ser ator é necessário ser generoso com a vida e com as pessoas. Ninguém faz teatro sozinho. “


Torcendo pela Thais Pimpão no Prêmio Shell

Thais Pimpão no espetáculo "Cantata para um bastidor de utopias". Foto: Alécio Cezar.

Thais Pimpão no espetáculo “Cantata para um bastidor de utopias”. Foto: Alécio Cezar.

Hoje é dia de entrega do Prêmio Shell de Teatro em sua etapa paulista. A cerimônia vai rolar na Estação São Paulo, no bairro de Pinheiros. A Thais Pimpão, maringaense de coração, está concorrendo com a Cia do Tijolo nas categorias direção, cenário e música pelo espetáculo “Cantata para um bastidor de utopias”.

A moça, aliás, teve um 2013 espetacular que está se refletindo neste começo de ano. No último dia 11 o espetáculo “Uma trilha para sua história”, do qual ela integra o elenco, ganhou o importante prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como melhor espetáculo de dança para crianças.

Por fim, ela é uma das indicadas a musa do teatro paulistano pelo portal R7, blog Atores & Bastidores. Ainda dá para votar aqui.

Atualizando: a Cia do Tijolo ganhou duas das categorias em que concorria, Música e Cenário. E a noite de premiação teve babado. A atriz vencedora, Fernanda Azevedo, fez um discurso criticando a Shell. Eis suas palavras: “Como esse prêmio tem patrocínio da Shell, eu gostaria de ler quatro linhas sobre essa empresa. O texto é de Eduardo Galeano [autor do livro ‘As Veias Abertas da América Latina’]. No início de 1995, o gerente geral da Shell na Nigéria explicou assim o apoio de sua empresa à ditadura militar nesse país: ‘Para uma empresa comercial, que se propõe a realizar investimentos, é necessário um ambiente de estabilidade. As ditaduras oferecem isso'”.

Mais informações sobre esta edição do Prêmio, aqui.